Livro: Uma Vez e Para Sempre Página 2

... o rosto sério e grave, a posição ereta dos ombros e a concentração nos belos olhos cinzentos sugeriam que ele havia ensaiado dezenas de vezes o que desejava dizer, e mesmo assim era consumido pela aflição de não sa¬ber como ou por onde começar. Continuaram caminhando ao longo dos penhascos na direção da casa de seus avós, uma construção confortável que ficava ao norte da cidade de pesca e turismo denominada Tenby, a sudoeste da costa de Wales. Como Trevor havia insinuado, tudo ali era estranho para Caitlin, mas a cada dia, Los Angeles parecia mais distante e menos real. Trevor se deteve e olhou para o mar. — Gostaria de sentar-se um pouco? — perguntou. Nenhum rapaz de dezoito anos na vizinhança onde morava teria sido tão tímido, nem teria ficado tão acanhado e desajeitado na presença de uma ga¬rota por quem se interessava. E Caitlin tinha certeza de que Trevor estava interessado nela. — Sim. Há uma depressão na rocha logo ali, perto da beirada do penhasco. Estaremos abaixo da cor¬rente de vento. Sem dizer nada, ele segurou sua mão e guiou-a pela região acidentada e difícil formada basicamente por terra e grama, até que alcançaram um recôncavo de areia aninhado em uma depressão no terreno. Ali estariam protegidos pelo vento e poderiam apre¬ciar a beleza da paisagem dominada pelo mar. A água exibia uma tonalidade de verde que lembrava uma jóia rara. Assim que Caitlin sentou-se na areia, Trevor a soltou e se acomodou ao lado dela. — Só temos mais uma semana antes do início das férias escolares — comentou sério. — É verdade. Um mês não foi suficiente para que eu pudesse sentir realmente as diferenças entre o curriculum daqui e o da escola onde estudo, na América. Mesmo assim, tenho a sensação de que o ensino é um pouco mais rígido aqui, e mal posso esperar pelas férias de verão. — O que vai fazer? — Agora ele a encarava. Seus olhos eram cinzentos e profundos, como o oceano num dia nublado. — Co ...

o pretende aproveitar as férias? — Ainda não pensei muito nisso. Acho que vou ajudar meus avós com as tarefas domésticas. E virei até aqui para caminhar e olhar o mar. Talvez saia para velejar, se conseguir alugar um barco. E tam¬bém vou nadar, é claro. — Eu tenho um veleiro. Trevor ficou vermelho e abaixou a cabeça, fingindo um enorme interesse no desenho que fazia na areia. Não devia rir, ou ele pensaria que estava debo¬chando de seu interesse. E a verdade era que estava encantada, porque também se sentia atraída pelo rapaz. — Isto é um convite? — Caitlin indagou com certa ousadia, tentando incentivá-lo a prosseguir. — Suponho que sim. — Bem, obrigada. Estarei esperando ansiosa pelo nosso passeio de barco. Gosta de nadar? Isto é, quando não está envolvido com aquele horrível jogo de rugby? — Rugby é um jogo muito interessante. Não há nada de horrível nele. — Se você diz. — Não revelaria que só havia ido ao ginásio da escola, onde a equipe treinava aquele jogo estúpido e violento, só porque quisera vê-lo. Lá, Trevor se comportara como todos os outros jovens de sua idade. Ruidoso, gritava e se atirava sobre a bola com uma avidez impressionante, seguindo regras que Caitlin não entendia, mas que considerava semelhantes às do futebol americano. — Não jogaremos rugby no verão — contou Trevor. — Isto significa que talvez queira ir nadar? — Com você? Era ela quem tinha a reputação de reticente. Os papéis estavam se invertendo ali, e gostava da sen¬sação de poder. — Sim, comigo. Você me leva para velejar, porque tem um barco, e eu o levo para nadar, porque sei nadar bem. — Também sei nadar. Os dois riram e Caitlin sentiu que ele relaxava um pouco. — Sua família é proprietária daquela grande Taverna na cidade, não? Trevor assentiu e colocou uma folha de grama entre os dentes brancos e bem alinhados. — A White Knight. Mas neste país nós chamamos aquele lugar de pub, não d ...

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