Livro: A sombra da outra Página 3

... a espécie de caverna de Aladim, com maravilhosos colares e braceletes incrustados de diamantes, esmeraldas e rubis, brilhando em cintilantes cascatas nos estojos de veludo. Sorriu para si mesma. Quem estava sonhando agora? Cinco minutos mais tarde, Toni deixou a avenida principal, en-trando na rua Azaléia, onde morava. Essa rua era exatamente igual às outras do bairro. Pareciam ter sido traçadas com esquadro, saindo todas da rua principal. Os prédios também eram iguais; as paredes de tijolos aparentes enegrecidas pela fumaça das chaminés das larei¬ras, cada um com seu pequeno jardim na frente. Toni colocou sua chave na porta do prédio número 25 e subiu cor¬rendo as escadas para o primeiro andar. Caminhando desde a esta¬ção, chegara a uma decisão sobre a entrevista. Se encontrasse sua mãe trabalhando na máquina de costura, isso significaria que tivera um bom dia, pois recebera uma encomenda e então guardaria as no¬vidades para si mesma. Mas se as coisas não tivessem corrido tão bem, então Toni largaria a bomba contando-lhe tudo para animá-la. Ao abrir a porta da sala, viu de imediato que a bomba era necessá¬ria. A sra. Warren estava junto ao fogão, tostando um pedaço de pão na ponta de um garfo e parecia abatida. A um canto, a máquina de costura coberta por um plástico verde, parada, inútil e abandona¬da — sinal evidente de que não recebera nenhuma encomenda! A sra. Warren ergueu os olhos assim que Toni entrou, seus ombros caídos por baixo do casaquinho marrom. Somente um abatimento temporário, pensou Toni, pois nada neste mundo a abatia por muito tempo; ela sempre dava um jeito de se reerguer. Era fácil ver que o dia fora pesado. — Alô, mamãe, aqui estou eu! Sua querida filha, muito molhada, cansada e com fome! — Toni abraçou-a sorrindo fazendo com que a torrada e o garfo caíssem de suas mãos. — Oh, Meu Deus! Estou fazendo com que fique tão molhada quanto eu! A sra. Warten puxou do rosto uma mecha de seu macio ...

cabelo que teimava em escapar do grampo; nunca o cortara, porque seu ma¬rido gostava dele comprido. — Não faz mal! — Passou cuidadosa¬mente a mão na saia. — Mas você está ensopada, Toni! Deixe-me tirar seu casaco e pô-lo para secar. Seus sapatos! Vá depressa trocá-los enquanto eu preparo um chá quente! Toni foi para seu quarto, trocou de roupa e enxugou os cabelos numa toalha, começando a sentir um calorzinho reconfortante, en¬quanto ouvia o barulho de pratos e talheres na sala. Até a música do rádio do apartamento vizinho não a incomodava porque era fami¬liar; fazia parte da vida que haviam construído ali. De volta à sala, onde o fogo da lareira crepitava, viu que sobre a mesa havia uma travessa de agrião, torradas amanteigadas, patê de anchovas e um bolo de gengibre. Deixou-se cair numa cadeira e, tomando o potinho de patê entre as mãos, aspirou-lhe o cheiro. — Humm! Anchovas e camarões. . . meus favoritos! — Aplicou uma generosa camada numa torrada e recostou-se na cadeira saboreando feliz. — Como foi o dia hoje, ma¬mãe? Não teve sorte? — lançou um olhar para a máquina co¬berta. A sra. Warren balançou a cabeça fazendo uma careta bem-humo- rada. — Nenhuma encomenda em vista! Estive em todas as minhas freguesas, mas ninguém quer nada antes que os novos tecidos che¬guem com os motivos de primavera. Todas têm estoque suficiente até o Natal. Mesmo a Sra. Fisher, com quem eu contava na certa. E você, querida, esteve cora a srta. Black? Toni assentiu. — Saí cedo e fui diretamente para a agência. — Consegui uma entrevista para amanhã de manhã. Um empre¬go que parece ser bom. Uma boa firma para se trabalhar e creio que pode ser interessante. — Mas isso é esplêndido! — Serviu uma xícara de chá passando-a para Toni. — Qual o nome da firma e onde é? Toni sorveu um golinho do chá e depois colocou vagarosamente a xícara na mesa, olhando para a mãe e sorrindo: — Adivinhe! — Ao ver a m� ...

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