Livro: A sombra da outra

... Mas Gray Lawrence — o homem fasci nante que era seu sócio nos negócios — hostilizou Antonia desde o pri meiro minuto: Por quê? Seria porque ela se parecia tanto com a falecida mulher de Gray, que ele amara acima de tudo? Ou seria porque, de repente, Gray a desejara tanto? A sombra da outra “The fire in the diamond” Marjorie Lewty CAPÍTULO I — É um excelente trabalho! — disse a srta. Black, da agência Pioneira, que observava Toni através de seus óculos de grossas len¬tes, acrescentando: — A Warrens é uma das mais importantes fir¬mas de jóias do país. Quando for para a entrevista amanhã certa¬mente encontrará lá outros candidatos, mas nada indica que não possa ter sorte. O sr. Lawrence, o diretor que vai entrevistá-la, não é uma pessoa que se satisfaça facilmente. Você é jovem e, na minha opinião, capaz de agradá-lo no desempenho de seu serviço. Tem dois anos de experiência e tenho boas referências suas. É tempo de tentar algo melhor. Além de tudo tem sua mãe para cuidar. Toni olhou-a admirada. Levara um choque, pois não tencionava mencionar o fato à srta. Black. Baixou os olhos dizendo: — Sim. isto é. em parte. Ela costura para fora e dividimos as despesas. — Compreendo. — O tom de sua voz revelava sua opinião sobre o quanto se poderia ganhar numa máquina de costura. Escreveu algo num cartão e estendeu-o à garota. — Pronto, srta. Warren — sorriu, coisa raríssima nela, e acrescentou: — Você tem o mesmo nome, o que talvez seja um bom presságio. O que diria a srta. Black, imaginou Toni, se ela lhe dissesse que Benjamin Warren, o presidente das Joalherias Warren, da Bond Street, era seu tio-avô, apesar de não saber de sua existência e nem mesmo desconfiar quem era ela? Mas duvidava de que a srta. Black pudesse ficar impressionada com isso. Para ela um emprego era uma coisa que devia ser conquistada por méritos próprios e não por qual¬quer espécie de proteção. E ...

om isso Toni concordava. Não era sem motivo que possuía inteligentes olhos claros, semelhantes aos dele. Levantou-se. Era uma moça alta, de lindas e longas pernas, cabelo macio e queixo voluntarioso. — Obrigada por tudo, srta. Black. Farei o contato e depois lhe direi se fui bem-sucedida. — Apanhou o cartão, guardou-o cuidadosamente na bolsa e desceu as escadas, saindo para a Oxford Street. Estavam no final de novembro e o inverno prometia ser rigoroso. Durante o dia todo fizera muito frio e agora começava a nevar. Toni viu-se imediatamente cercada pela multidão que este ano parecia ter sido acometida da febre do Natal mais cedo. A seu lado caminhava uma mulher vestindo um casaco de pele de leopardo e carregada de pacotes que, escorregando no chão molhado deu-lhe um encontrão. Mas nem notou. Pela primeira vez não a atraíam as vitrinas das lojas, onde todas as semanas se empenhava em achar um peque¬no presente para sua mãe. Fantástico! Esta palavra não saía de sua mente. Absolutamente fantástico! Dentre milhares e milhares de companhias de Londres a srta. Black a enviara exatamente para a Warrens! E o que tornava a coisa ainda mais incrível é que exatamente na noite anterior sua mãe lhe dissera: "Sabe, Toni, tenho a singular impressão de que algo de maravilhoso está para acontecer", Toni sorrira e dissera: "Não é ótimo?", estava quase se acos- tumando com as premonições de sua mãe. A sra. Warren era uma pessoa estranha; um misto de objetividade e sonhos. Com um marido artista e cuja arte ascendia às raias da paixão, tinha que ter se torna do uma mulher prática, mas seu lado sonhador não desaparecera totalmente. "Um dia", dissera a Toni quando esta se tornou capaz de com-preender, "seu pai verá reconhecido o valor de seus trabalhos. Seus quadros figurarão nas melhores galerias do mundo todo. Será uma nova vida para nós. . . viajar. conhecer gente interessante. não ter nada para. . fazer." Toni sabia que o que ela queria ...

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