Livro: O pecado de Anne Página 2

... bem mais séria. E na pior das hipóteses, seria acusado de traição. Se Hume soubesse disso, não pensaria em lhe arrumar uma esposa. Edouard ficou tentado a lhe dizer, só para ver a reação. Mas até agora não contara nada a ninguém, nem ao filho nem aos nobres que os acompanhavam e que tinham o de¬ver de segui-lo sem fazer perguntas. — Só estou pensando no seu bem-estar — Hume insistiu. — O senhor continua solteiro e talvez ainda esteja aborrecido com os desatinos de minha filha. Mas isso já passou e deve ser esquecido. Edouard curvou os lábios-num sorriso irónico. — Pois acredite que não tenho vontade nenhuma de repetir a experiência. Se eu fosse o senhor, não insistiria. O barão deu um profundo suspiro. — Sabe que eu preferia muito mais tê-lo como genro àquele escocês mercenário. Peço-lhe desculpas pelos atos cometidos por minha filha, que recusou a sua corte. Edouard reprimiu uma gargalhada. A pobre moça ficara apavorada com a ideia de se casar com o terrível conde de Trouville, famoso por ter enterrado duas esposas e manter um pacto com o diabo. Quando Edouard fora à Escócia para reivindicá-la como esposa, a pirralha desafiara a todos. Recusara a sua corte! Francamente! Não era de admirar que Hume tivesse o título de diplomata. Edouard era o único responsável pela reputação que tinha. Se quisesse, poderia ter feito lady Honor mudar de opinião, bastaria desmentir os boatos. Como não o fez, a criatura tomara as rédeas do próprio destino: fugira para a Escócia, falsificara os documentos de casamento e se casara com outro. No fundo, Edouard admirava o génio e a coragem da jovem, para não falar de sua indes¬critível beleza, que em suas raras crises de sentimentalismo o levara a fantasiar uma paixão por ela. Edouard chegou a pensar em dar cabo do escocês que lhe roubara ladj\' Honor e até se arrependeu de não tê-lo matado quando oferecera a ele uma espada e desafiara-o para um duelo. Um movimento inespe ...

ado de Edouard, durante o embate, decidira a questão. A ponta da lâmina no pescoço esfriou consideravelmente a valentia de seu rival. Agora, Edouard cavalgava no meio do nada, ao lado do pai da moça, ouvindo a proposta ridícula de tentar mais uma vez. Talvez fosse melhor ser atacado por bandidos. Mas, pensando bem, talvez Hume pudesse lhe ser útil. Edouard precisava encontrar terras fora da França. Não gostaria de morar no litoral, mesmo que lá estivessem os seus navios mercantes. Mas a Escócia era outra coisa. Gostava da natureza, bem como da liberdade cultivada por seus habitantes. Edouard ajeitou-se na sela e virou-se para Hume. — Como vai sua filha? O peito do homem encheu-se de ar. — Ah, ela me deu um neto este ano. Estou indo visitá-los agora. E aproveitarei para tratar de alguns negócios. — Parte das terras de lady Honor ficam na Escócia, não é? — Sim, uma pequena faixa ao norte. Continuo achando que você deveria ter exigido esse dote em reparação pelo que ela lhe fez. Honor ofere¬ceu-lhe isso, lembra-se? — Não. As terras são dela. Mas talvez eu me interesse por essa faixa ao norte, se eles quiserem vender. E, é claro, se me servir. — Com a sua licença, tenho uma idéia melhor. Além de ganhar uma propriedade, ainda lucraria com outra! — Hume exibia um sorriso perigoso. — Já imagino como! Hume ignorou o sarcasmo. — Sabe, eu tenho uma sobrinha, filha única de minha irmã, que enviuvou recentemente. A última vez que vi Anne, ela havia se tornado uma moça muito atraente. Hoje é mãe de um garoto de dez anos, Tanto ela quanto você, assim como os filhos de ambos, poderiam se beneficiar dessa aliança. E minha consciência ficaria aliviada da traição cometida por minha filha. Prometi encontrar alguém para a minha sobrinha, e acho que encontrei. Talvez tenha sido o destino que fez nossos caminhos se cruzarem. Destino! Com a mesma intensidade com que Hume o incomodava, Edouard gostaria que ele estivesse e ...

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