Livro: O sonho de um coração Página 2

... Contrate uma casa de leilão. Deve haver alguma até mesmo naquele fim de mundo. E então converse com um agente estadual. Não precisará ficar ali até que surja um comprador. Hannah estava inquieta. A pergunta na ponta de sua língua tinha de ser feita. Entretanto, temia levantar aquele assunto sempre tão proibido. Falara sobre o tabu com a mãe exatamente duas vezes na vida. A primeira quando era muito nova, por volta dos dez anos, se a memória não a enganava, e sua mãe meramente ignorara a pergunta, fingindo-se de surda. O segundo comentário resultou em uma terrível discussão e subsequente período de silêncio, o mais longo na história do relacionamento entre mãe e filha. Hannah não estava com vontade de repetir a experiência. Mas a pergunta simplesmente tinha de ser feita. — E quanto a Tammy? A alteração na expressão de Hillary foi quase imperceptível. E, durante a pausa que se seguiu, Hannah teve certeza de que a mãe procurava reunir o máximo autocontrole possível. Sem voltar-se para a filha, Hillary falou: — Você terá de descobrir onde ela está. Verifique na instituição estadual mais próxima. Descubra se o Estado está arcando com sua manutenção. Espero que sim, já que seu pai nunca ficou em um emprego por mais de um mês. "Seu pai!" Hannah sentiu um arrepio na espinha. Hillary raramente usava o termo "seu pai" para descrever o ex-marido para a filha. Nas raras ocasiões em que falavam sobre aquele homem, usavam seu nome completo. De fato, foi exatamente como sua mãe lhe dera a notícia: "Bobby Ray Cavanaugh morreu", dissera. A notícia da morte do pai afetava Hannah de que modo? Não sabia. Nem se permitira reagir. Em vez disso, empurrara a realidade da informação para um canto da mente e colocara-se em piloto automático para só assim conseguir falar. Não era uma atitude inteligente demonstrar emoção diante da mãe. Hillary não gostava de sentimentalismo. E Hannah sabia que a mãe era capaz de usar ...

s pensamentos e sentimentos de alguém contra essa pessoa mais tarde. Por isso afugentara as emoções, concentrando-se em apagar o incêndio da notícia inesperada. Pensava apenas no que tinha de ser feito. Mais tarde lidaria com seus sentimentos. — Assim que tudo estiver resolvido — Hillary prosseguiu — você poderá estabelecer uma espécie de mesada para a garota. "A garota. A garota." Hannah lutou contra o ressentimento que trazia um gosto amargo na boca. Mais uma vez, porém, não reagiu. Sua mãe simplesmente via-se incapaz de superar o que sentia. Hannah em silêncio debateu em defesa de Hillary. Um desprezo completo sempre foi seu jeito de lidar com a situação. Entretanto, a morte de Bobby Ray significava que a indiferença e o desprezo não mais funcionariam. Pensou em Tammy. Pela primeira vez em muito tempo, Hannah sentiu uma espécie de. um sentimento novo dentro dela. Excitação? Alegria? Não sabia. Sabia apenas que precisava deixar o escritório da mãe antes de receber mais ordens detalhadas no tocante a Tammy. — Irei a Little Haven — Hannah subitamente falou e deu um passo para a porta. — Cuidarei de tudo. Não se preocupe. — Bem. Hannah nem esperou que Hillary terminasse de falar. Simplesmente virou-se para a porta. .caso se meta em problemas, telefone para mim. Hannah revirou os olhos para o alto e ficou aliviada por sua reação passar despercebida. A preocupação de sua mãe sempre se traduzia naquela frase: "Se você se meter em problemas." A mensagem implícita, bem sabia, era: "Não me aborreça a menos que seja absolutamente necessário". Entretanto, Hannah sentia-se de certa maneira grata por Hillary agir assim. Aquele método forçara-a a se tornar a mulher independente e auto-suficiente que era. E, Hannah, não quero que você. — Eu disse que cuidarei de tudo — Hannah falou por sobre o ombro e, sabendo muito bem o que a mãe estava prestes a lhe dizer, deixou que a porta se fechasse entre as dua ...

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