Livro: Vida de bailarina Página 3

... sne. É o balé mais lindo que existe. É sobre uma linda moça que um mágico malvado encantou, transformando-a num cisne. E o príncipe se apaixona por ela, mas o mágico malvado tem uma filha e ela finge ser a rainha dos cisnes. — Juliet suspirou de mansinho com olhar extasiado. — O príncipe promete casar-se com o cisne negro, daí começa a trovejar e todo mundo fica com medo. Então o cisne branco começa a chorar do lado de fora da janela porque ela sabe que vai morrer. Ela era a bailarina mais linda do mundo. Ah! Toni — murmurou ela com voz de sono—, eu queria tanto ser uma bailarina. O eterno desejo de uma criança enfeitiçada pelo mundo encantado do balé. Toni desviou o rosto para que ela não visse sua palidez, sem ousar falar com medo de se trair. Invadiram-lhe a mente dolorosas recordações do mundo que havia sido seu, até que uma cruel mudança do destino quebrou a magia. Ela conhecera bem a angústia do Cisne Branco, a alegria de interpretar essa angústia. Uma única vez. Por alguns instantes, na sua juventude, a suprema honra tinha cabido a ela, o começo da recompensa de longos anos de luta que logo foi arrebatada por um rapaz assustado, uma rua escorregadia, uma bicicleta rodopiando. e depois a terrível verdade: sua carreira es¬tava terminada. Nunca mais poderia dançar. O enorme avião sobrevoou a Europa. Uma cápsula prateada cortando as alturas na imensidão do infinito. Dentro da cabina silencio¬sa, as luzes foram se apagando uma a uma. Toni acomodou melhor a menina e, finalmente, fechou os olhos que ardiam sob as pálpebras pesadas. Tentou afastar da mente o passado irreversível e todos os "poderia ter sido". Diante dela estava o futuro, desconhecido e vazio, para ser vivido num lugar no meio do Oceano Índico. Agora era seu único lar, embora ela estivesse indo como uma estrangeira. O que haveria lá, que pudesse substituir tudo o que perdera? Pouco antes do amanhecer, Juliet mexeu-se, ainda dormindo, e Toni acordou com c� ...

ibras. Moveu-se na cadeira, procurando uma posição melhor, e esticou as pernas procurando os sapatos. Juliet es¬preguiçou-se e abriu os olhos. — Será que já estamos perto? — perguntou ela. Toni olhou para o relógio de pulso e balançou a cabeça. — Acho que ainda falta um bom pedaço. — Será que já estamos sobrevoando a África? — Estamos, sim. — Puxa! Mas a África é tão grande! — Juliet suspirou e seu rostinho ficou sério, demonstrando fraqueza. — Por favor, Toni — murmurou ela — posso ficar com você? Quer dizer, quando descer¬mos em Nairobi para trocar de avião? — É claro que sim. Vou ficar com você até que encontre seu pai sã e salva. Agora, que tal começarmos a nos arrumar antes que os outros passageiros acordem, e comecem a servir o café? Você vai primeiro. Pegue sua toalha e escova de dentes, está bem? Mas, assim que pousaram no aeroporto de Nairobi, a aeromoça se aproximou sorrindo e, com muito tato, se encarregou de Juliet, que ficou relutante, mas a aeromoça, com firmeza, retirou-a do fluxo de passageiros que desembarcavam. Toni sorriu encorajadoramente para ela e acenou com a mão antes de perdê-la de vista. Provavelmente a aeromoça iria tomar conta de Juliet até o momento de entregá-la ao oficial de bordo de outra companhia aérea. Deveriam esperar no aeroporto mais de uma hora, o que era muito tempo para se passar sozinha, mas pouco tempo para um passeio ou algo mais interessante. Toni suspirou. Ter a oportunidade de estar na África e só poder ver as luzes e construções do aeroporto. Parecia tudo tão atraente! Bem que ela gostaria de conhecer Nairobi. Resolveu percorrer o aeroporto e examinar as lojinhas que vendiam vários artigos típicos. Escolheu alguns cartões postais e foi pro¬curar o restaurante. Não havia o menor sinal de Juliet. Toni escolheu uma mesa e acomodou-se. Pediu um suco de frutas e começou a escrever nos cartões que comprara. Este para Sara. este aqui para Kim. e ...

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