Livro: Vida de bailarina Página 2

... doente de uma febre e papai me disse que ela precisava ir para longe para se tratar. Ela foi, mas nunca mais voltou. Os olhos castanhos toldaram-se com tristeza e Toni esqueceu seus próprios problemas, sentindo-se solidária com a dor da menina. — Eu compreendo, Juliet, porque aconteceu algo com mamãe quando eu era criança. Juliet balançou a cabeça com um ar compreensivo. — Daí, eu tive que morar com vovó e vovô porque papai não podia tomar conta de mim sozinho. Ele é o administrador da fazenda CaroFryer, de plantação de cana-de-açúcar. No ano passado, quando ele voltou para casa, eu quis ir com ele, mas ele não deixou. Eu fiquei morrendo de saudade. Então, cada vez que recebia uma carta dele eu chorava até ficar cansada, e me queixei tanto que acabaram concordando com a minha vinda. Sabe? Eu parei de comer e emagreci dois quilos. Agora sou eu que vou tomar conta dele. Ele está sozinho e eu já estou bem grandinha. Já tenho oito anos. Juliet fez uma pausa para tomar fôlego. — Você também vai indo para tomar conta de seu pai? Toni balançou a cabeça. — Não, eu vou para morar com minha madrasta e a filha dela. Sabe, meu pai teve um ataque do coração, no ano passado, e agora precisou viajar para melhorar. — Ah! Sei. — Juliet demonstrava entender perfeitamente, e por um momento as duas se entreolharam com compreensão. Juliet foi a primeira a desviar o olhar, e sua expressão mudou repentinamente, como se ela houvesse lembrado de recomendações que lhe houvessem sido feitas. Num tom formal ela disse: — Será que não estou incomodando você? — Ora, pelo amor de Deus, nem pense nisso! — disse Toni. Eu estava apavorada com essa viagem tão longa, sem ter ninguém para conversar. Juliet acalmou-se. — Eu também estava, mas vovó me disse para eu não incomodar ninguém. — Você não está incomodando, mas. — Toni hesitou — nem sempre é bom falar com estranhos. As pessoas que às vezes parecem boazinhas po ...

em não ser nada disso, — Eu sei. Vovó me falou, mas eu conheço as pessoas que são boazinhas de verdade e as que estão só fingindo. Toni lembrou-se de outras palavras parecidas: — Será que conhece mesmo? Olhe, minha cara, não se esqueça de que o instinto não é sempre infalível. As aeromoças serviram o jantar e, a julgar pelo modo como Juliet devorou tudo o que havia na bandeja, podia-se dizer que ela estava querendo recuperar aqueles dois quilos o mais rápido possível. — Agora me sinto melhor.— disse a menina, inclinando-se no encosto da cadeira e suspirou. — Sabe, quase já esqueci como é o rosto de papai. Faz quase um ano que eu não o vejo. — Você o verá amanhã. Não vai demorar muito agora. — Eu queria que já fosse amanhã, — Por que você não tenta dormir? Assim o tempo passa mais de¬pressa. Juliet fez um muxoxo cômico, fingindo resignação. — Foi o que vovó disse. Ontem ela quebrou as regras e me deixou ir dormir bem tarde, dizendo que era para eu ficar com sono hoje e dormir bem no avião. Mas eu não estou nem um pouco com sono. Toni olhou para o rostinho vivo e percebeu sinais de cansaço por trás de uma superexcitação. — Se você não dormir bastante agora, amanhã você estará tão cansada que não conseguirá conversar com seu pai — disse ela gentilmente. — Você não quer estar bonita e bem disposta quando encontrá-lo? — Juliet assentiu e ela continuou, persuasiva. — Então, feche os olhos agora e pense em alguma coisa boa. Finja que está sonhando e você pega no sono num instante. Obedientemente a menina fechou os olhos e chegou mais perto de Toni, apoiando o rosto na junção dos dois assentos. Ficou em silêncio por algum tempo e de repente disse: — Estou pensando na noite de ontem. Vovó levou-me para ver o balé, como programa de despedida. Eu adoro balé, e vovó disse que não vou ver nenhum na ilha. — O que foi que você viu? — Toni engoliu em seco. — O Lago do Ci ...

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