Livro: Vida de bailarina
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... The Whinspering Grove Margery Hilton CAPÍTULO I Os olhos de Toni percorreram pela terceira vez o mesmo parágrafo sem compreender o sentido das palavras, e ela, num gesto de impa¬ciência, soltou as páginas que se fecharam produzindo um leve farfalhar. Era inútil tentar aparentar calma e tranqüilidade. Sentia os nervos tão tensos como se estivessem a ponto de arrebentar, e seu coração batia agitado como se dançasse um ritmo alucinante. Como fora imaginar que a melhor solução para tudo seria embarcar naquele vôo noturno? Como pudera pensar que sobrevoando a cidade àquela hora, o escuro da noite iria poupá-la da dor de observar a amada paisagem perder-se na distância? O simples fato de saber que tudo estava lá, guardando suas lembranças e sua felicidade, causava-lhe uma sensação de perda quase insuportável. Queria ago¬ra olhar tudo pela última vez, agarrar-se a tudo que sua amada cidade tinha significado para ela: o lar, a carreira, e Kevin. Seus dedos apertaram a fria e indiferente revista e ela conteve o pranto. Não devia render-se agora. Olhou para o aviso luminoso e apertou o cinto, preparando-se para a decolagem. Finalmente chegou o momento. Ela sentiu o enorme avião no ar e, por um momento, ficou com medo. — Está tudo bem. Já estamos voando. A voz jovem era calma e amável, e Toni virou-se num sobressalto. Quando viu o rosto alegre da menina que estava sentada a seu lado, sentiu-se envergonhada por sua fraqueza. — Será que poderia fazer o favor de abrir isso para mim? Está emperrado e eu queria pegar meu lenço — falou a garotinha. Toni colocou sobre os joelhos a pequena maleta branca e examinou o zíper. Descobriu um fio de linha preso entre os dentes do zíper e, depois de alguns instantes, conseguiu tirar o fio e abrir a maleta. Devolveu-a e sorriu quando a menina agradeceu educadamente. Ficou imaginando que a garotinha parecia estar viajando sozinha e que, sem dúvida, demonstrava um notável autocontrole. É ...

claro que a companhia de aviação tomava conta das crianças que precisavam viajar sozinhas, mas mesmo assim nem todas demonstravam essa calma e confiança. Ás vezes, algumas ficavam preocupadas, com medo de não encontrar ninguém esperando por elas na hora de desembarcar. — Já podemos desatar os cintos agora — disse a garota, executando a operação com facilidade e rapidez, sorrindo para a aeromoça que havia se aproximado. — Eu já pratiquei bastante abrir e fechar os cintos quando fui para a Itália com a vovó o ano passado. Ela remexeu na bolsa, retirou um saquinho de balas e ofereceu a Toni. — Os seus ouvidos tapam? — perguntou a menina. — Às vezes — admitiu Toni, sorrindo para a pequena e amável estrangeira. — E os seus? — Não. Eu fico o tempo todo chupando balas e engolindo, por isso eles não tapam. Ah! Ouça! O comandante está falando. A menina ficou atenta às informações sobre o vôo, até que o co¬mandante desligou, formulando os costumeiros votos de boa viagem. Toni observava-a sem conseguir disfarçar uma certa curiosidade por sua companheira de viagem. Sem qualquer rodeio a garota perguntou, de repente: — Você vai até Nairobi? — Vou. Depois de lá pego outro avião. — Eu também. — A menina deu um exagerado suspiro de tédio. — Eu gostaria que este avião fosse direto. Para onde você vai? — Acho que você não conhece o lugar. É uma ilha pequenininha que fica entre Madagascar e Maurício e que se chama. — Ilha Salamandra? — A menina se mexeu na cadeira cheia de animação. — É para lá que você vai? Eu moro lá! Foi a vez de Toni ficar surpresa. — Eu também, quer dizer, vou morar agora. Nunca estive lá. — Como é seu nome? Eu me chamo Juliet Valmont. Eu nasci lá. Mas que interessante, não? Vou para ficar com papai. Sabe, eu fiquei morando na Inglaterra desde que tinha quatro anos. Foi preciso, depois que mamãe morreu. — O rostinho de Juliet ficou sério. — Ela ficou ...

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