Livro: A noite do condor Página 4

... sa alguma. — Ainda não. Mas sua chegada só pode significar duas coisas: ou que você espera que Evan Gilchrist venha até Lima para vê-la, ou então que pretende visitá-lo em Atayahuanco. Receio que ne¬nhuma das alternativas seja viável. — Dr. Martinez, creio que não sabe… — Com quem estou falando? Sim, eu sei, srta. Fraser. Tenho plena consciência de que nosso trabalho está sendo realizado gra¬ças ao financiamento de Ernest Fraser. Sei também que a senhori¬ta acha que pode fazer o que bem entender só porque é filha dele. Estou aqui justamente para desfazer esse engano e dar-lhe uns con¬selhos. Esforçando-se ao máximo para não perder a paciência, ela sor¬riu com sarcasmo. — Devo me sentir agradecida por tanta generosidade? — Isso é problema seu, e não faz a menor diferença para mim. De qualquer modo, sugiro que embarque para a Inglaterra assim que puder. Este não é um lugar apropriado para a senhorita, e fi¬co admirado por sua família não tê-la informado disso… Ou será que eles o fizeram e não lhes deu ouvidos? — Dr. Martinez, sou uma mulher adulta e faço tudo o que que¬ro sem pedir a opinião de ninguém. — Esse não é o procedimento de um adulto responsável, mas isso não vem ao caso. Evan Gilchrist virá encontrá-la aqui? — Talvez o senhor possa me dizer, já que é o grande chefe do projeto. Por acaso deu-lhe permissão para vir se encontrar comigo? — Não. — Era o que eu imaginava. E agora? O que devo fazer? Ajoelhar-me a seus pés e implorar por um encontro com ele? Ele deu de ombros, indiferente. — Não faria diferença. Evan Gilchrist deixou o acampamento quarenta e oito horas antes de recebermos a notícia de sua viagem ao Peru. Imaginávamos que ele já tinha conhecimento de seus pla¬nos e vinha a seu encontro, mas confesso que essa hipótese não me pareceu satisfatória. Anne ficou boquiaberta diante de tão inesperada revelação. — Mas ele não sabia que eu viria para c� ...

! Não lhe disse nada na última carta que escrevi, já que foi uma decisão tomada às pres¬sas. Não tem idéia de onde ele possa ter ido? — Não tinha idéia nem de que ele pretendia ir embora. Ele se apossou de uma mula e provisões e desapareceu durante a noite. Por mais que odiasse Atayahuanco, não precisava fazer isso. Bas¬tava dizer que queria ir embora e poderia ter vindo comigo de he¬licóptero. Não faria falta alguma no acampamento. — Eu sei. Os esforços de Evan nunca conseguiram satisfazê-Io, não é mesmo? — Nunca vi esforço algum da parte dele. Mais algumas expressões que Evan usara para descrever aquele homem vieram à mente de Anne: “Porco intolerante”, “feitor de escravos”. E, mais uma vez, ela percebeu que eram apropriadas. — Já tentou encontrá-lo? Mandou alguma expedição de busca à procura dele? — Ele não é criança, srta. Fraser. Anne percebeu que seria inútil qualquer esforço para convencê-lo de que Evan podia estar em perigo. Percebia-se que aquele ho¬mem não admitia que o contrariassem. Os traços duros, o ar arro— gante, o brilho quase cruel de seus olhos negros, tudo contribuía para cercá-lo de uma aura de severidade implacável. — Seu noivo conhece todos os perigos a que está sujeito, ou pelo menos deveria conhecer, já que foi prevenido várias vezes. — Então não pretende fazer nada a respeito? — Ele tem um instinto de autopreservaçâo bastante forte, e vai precisar dele. Enquanto isso, a melhor coisa que a senhorita pode fazer é embarcar de volta para a Inglaterra e esperar calmamente pelo feliz reencontro. — Obrigada pelo conselho, mas não vou fazer isso. Evan está perdido e não voltarei para casa até encontrá-lo. Já que o senhor não se preocupa com a segurança de seus funcionários, pretendo , ir até Atayarmanco e organizar uma busca. Poderia, por favor, to¬mar as providências necessárias para que eu vá até lá? Ele deu uma gargalhada, cínico. — Como ...

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