Livro: A noite do condor Página 2
Autor - Fonte: SARA CRAVEN
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ar seu valor. Quero saber se ele é um homem de verdade.
— Mas na América do Sul? Trabalhando como se fosse uma mistura de arqueólogo e assistente social?
— Trata-se de um projeto sério e gratificante. Evan é diploma¬do em história, e vive falando da pobreza e da dignidade do traba¬lho. Em Atayahuanco terá contato direto com ambos. Ele precisava de trabalho, e foi o que lhe dei.
— Mas há outros empregos, papai. E muito mais adequados.
— Ele os terá, caso se saia bem no Peru. Procure entender, An¬ne. Vocês são jovens e precisam pensar muito antes de encarar al¬go tão sério quanto o casamento. Se vocês se amam de verdade, um ano de separação não fará muita diferença. A menos que vo¬cês tenham dúvidas quanto ao que sentem um pelo outro.
O argumento pusera fim à discussão. Anne tivera de aceitar os fatos, mesmo achando que o pai estava exagerando. Evan, por ou¬tro lado, aceitara tudo sem protestar.
— Talvez não seja tão ruim, Anne. E, se eu conseguir convencê-lo de que não estou apenas interessado em sua fortuna, o esforço valerá a pena.
— É ridículo! Acho que meu pai não se lembra de que já foi jovem um dia.
— Talvez, mas ele tem todo o direito de proteger sua única fi¬lha. Sabe como me sinto? Como um cavaleiro de conto de fadas, provando seu valor antes de conquistar uma princesa.
— E o que pretende fazer? Escalar uma montanha de vidro e trazer-me uma maçã de ouro?
— Quem sabe? Afinal, Atayahuanco já foi uma cidadela inca. Pode ser que eu encontre algum tesouro perdido que eles tenham escondido dos espanhóis. Seu pai ficaria bem impressionado caso eu a cobrisse de ouro.
— Sem dúvida! Mas não tenha ilusões. Isso não é uma caça ao tesouro. Além de estudar a civilização inca, também é objetivo da expedição trabalhar com famílias indígenas que perderam contato com as técnicas artesanais e o estilo de vida de seus antepassados.
— Sei de tudo isso, querida. Vou para o Peru sem ilus
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o algu¬ma. Minha única ambição é provar a seu pai que serei um genro perfeito: dócil, obediente e trabalhador.
Belas palavras e nobres intenções, sem dúvida. Mas que não ha¬viam resistido às duras condições de vida de Atayahuanco. Nas pri¬meiras cartas, Evan ainda conseguira fazer piadas sobre o desconforto e o trabalho duro. Com o passar do tempo, o bom humor fora desaparecendo, e as últimas cartas sugeriram que ele estava chegando aos limites de sua paciência.
E fora justamente por isso que Anne resolvera ir para a Améri¬ca do Sul. Ernest, como já era de se esperar, fora contra a idéia, mas nada pudera fazer contra a firme resolução da filha.
— Já estamos separados há um ano, papai. Somos maiores de idade e estamos apaixonados. Creio que merecemos um pouco de felicidade.
Havia vacilado em sua determinação quando o pai deixara bem claro que não lhe prestaria auxílio algum.
— Essa idéia é uma loucura, e não vou mexer um dedo para ajudá-la. Só espero que, ao chegar a Lima, perceba as dificulda¬des que tem pela frente e volte para casa.
E aquelas palavras haviam continuado a incomodá-la durante toda a viagem, por mais que ela tentasse se convencer de que a fe¬licidade estava à sua espera no Peru.
Agora estava ali, sozinha numa suíte de hotel luxuosa e impes¬soal, num país estranho, sem saber mais do que meia dúzia de pa¬lavras em espanhol. Bem, agora não podia voltar atrás, e o melhor a fazer era relaxar e decidir quais seriam seus próximos passos. Tal¬vez um café pudesse ajudá-la.
Nesse instante, o interfone, colocado ao lado da enorme cama, começou a tocar.
— Sim?
— Señorita Fraser, há um cavalheiro à sua procura, aqui na re-cepção. Quer descer para falar com ele?
Um sorriso de prazer iluminou-lhe o rosto. Então Evan viera encontrá-la! Era bom demais para ser verdade!
— Peça-lhe que suba, por favor.
Do outro lado da Unha houve uma breve hesitação.
— Tem certeza de que não prefer ...
Comentários:
Aninha: Que livro maravilhoso!!!!.
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