Livro: Caçador de corações Página 2

... ano bateu várias vezes na bandeja. Com a outra mão a mulher voltou a agitar o lenço bordado. —Venha cá, Bridget. Transmita-me o que ela disse. — Bem, minha senhora. Com rapidez, a criada foi se deslocando, tomando cui¬dado para não pisar nos destroços espalhados pelo chão. Finalmente parou diante da patroa e fez outra reverência. Seria muito melhor se ver no meio de dois exércitos em luta mortal do que entre aquelas duas mulheres. Bridget engoliu em seco antes de falar. — Bem, minha senhora, em poucas palavras, a Srta. Amanda disse que está firmemente determinada a se casar com o. salafrário. Com o lenço a Sra. Grenville acenou para que ela che¬casse mais perto. Agora a luz que havia nos olhos verdes da idosa mulher era mais um brilho de esperança do que o fogo da raiva que antes se via. — Ela disse se ama o homem? — perguntou a velha, cochichando. — Minha neta disse alguma coisa sobre amor? — Amor? — repetiu Bridget, atarantada. Teria a Srta. Amanda, em toda a sua revolta, dito uma única palavra sobre amor? — Não, minha senhora. A Srta. Amanda não disse nada sobre isso. Não que eu me lembre. A velha fechou os olhos por um momento e dobrou-se para a frente. A bengala caiu ao chão e ela suspirou. — Foi o que pensei. — dito isso, aprumou o corpo e voltou a soltar a voz. — Só passando por cima do meu cadáver, Amanda Grenville. UM North Platte, Nebraska 1874 — Quer um polimento nas botas, moço? Passa fora. — O que é isso? Suas botas ficarão bem mais vistosas se forem polidas. E eu não reclamarei se receber uma moeda para fazer isso. O que me diz, moço? — Você é uma peste. — Não, sou um empreendedor. — É a mesma coisa. Marcus Quicksilver ergueu um pouco a frente do cha¬péu para dar uma boa olhada no menino que no último minuto o azucrinava como uma mosca importuna. Era criança magra, com marcas de varíola no rosto e usava um único suspensório para sustentar precariamente a cal ...

�a curta e grande demais para ele. — Quantos anos tem, garoto? O menino ergueu a cabeça e olhou para Marcus. — Nove, se faz tanta questão de saber. E você? — Noventa. Marcus riu, mas parou quando sentiu uma dor como se a cabeça fosse estourar. Soltou um palavrão em voz baixa e fechou os olhos, jurando outra vez que nunca mais voltaria a tocar em uísque. — Bem que podia fazer essa barba, moço. Marcus passou o dedo no queixo. A barba de três dias, de tão crescida, estava macia e nem chegava a arranhar. — Já sei! Você também é um barbeiro empreendedor. O menino soltou uma gargalhada. — Não, mas por uma moeda posso levá-lo ao melhor barbeiro da cidade. — Não tenho tempo para isso. — Está esperando o trem? — Acertou. O garoto consultou um relógio de ouro que pescou do bolso. — O trem para o oeste levará uns bons vinte minutos para chegar aqui. Não é tempo suficiente para uma barba caprichada, mas dá de sobra para um lustre nas botas. — Depois de pôr o relógio de volta no bolso ele fitou o cliente em potencial. — E então? Marcus mexeu-se na cadeira e esticou as pernas. Por alguns instantes ficou olhando para as botas, pergun¬tando-se quando havia parado de fazer questão de usar calçados lustrosos, andar com o rosto bem barbeado e vestir roupas bem passadas. Perguntou-se também se estava tão malcuidado por dentro quanto por fora, se o coração e a alma encontravam-se num estado tão deplo¬rável quanto a aparência externa. Mas para que se preo¬cupar com isso? — Você venceu — disse, finalmente, resignado. — Mãos à obra, garoto. — É para já, meu senhor! O menino esticou várias vezes o sujo pedaço de ca¬murça que usava como flanela, cuspiu na bota esquerda do freguês e imediatamente começou a trabalhar. — Belo relógio para um engraxate — comentou Mar¬cus, num tom casual, olhando para a cabeça do garoto. Aqueles cabelos avermelhados e revoltos provavelmente não viam pente h ...

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