Livro: Possuida pela paixão Página 3

... om surpreendentemente casual dele, da cadência musical de seu sotaque. Ele estava recostado na cama ao falar, e ela havia se vol¬tado de onde estava, à janela, os olhos arregalados fitando-o, incrédulos. — Você disse.? Ah, sim! Sim, por favor! Mas pode ser logo? Pode ser aqui — agora —, o mais depressa possível? Se deixassem para depois, será que ele não mudaria de idéia? Diria que era apenas uma brincadeira? Ah, por favor, por favor, que não seja uma brincadeira. — Podemos nos casar amanhã? Basta encontrar uma ca¬pela aqui e fazer isso. E ali estavam, conforme o desejo dela. Em uma capela bem pequena pintada de rosa vivo e branco. E este homem maravilhoso, este homem deslumbrante, lindo, o homem que ela adorara desde o primeiro instante, ia realmente ser seu marido. Com voz trêmula, ela fez seus votos. A mão tremia quan¬do ela a esticou para receber a aliança, e ele prendeu aquela mão trêmula na sua, segurando-a firmemente ao colocar a aliança em seu dedo. — Eu vos declaro marido e mulher. — Pronto, fizemos! As palavras lhe escaparam num arroubo de riso delirante. — Realmente fizemos. Foi então que a realidade do que havia acontecido a atin¬giu em cheio. Estava casada. Casada com um homem que conhecera na semana anterior. Tinha jurado amá-lo e respeitá-lo e estar com ele pelo resto da vida — \"até que a morte nos separe\". E uma voz interior sussurrou em sua cabeça, sim, ela o amava tanto que tinha ido para o altar o mais depressa possí¬vel Ela o amava — mas será que realmente o conhecia? O chão parecia balançar sob seus pés quando ela olhou para o rosto dele, viu aqueles olhos deslumbrantes fixos nela, sentiu a mão dele apertando a sua. — Fizemos isso - ele disse, e havia um tom em sua voz que a desequilibrou, e por um instante o sol parecia ter se escondido atrás de uma nuvem. Porém, então, ele sorriu para ela, e o sol brilhou novamen¬te. E quando ele inclinou a cabeça para prender su ...

boca num beijo prolongado, ela sentiu todo o seu medo, aquela dúvida momentânea, evaporar-se como a névoa diante do sol. Ela o amava, e era só isso que importava. Eles tinham a vida inteira para se conhecerem. Aquele homem e sua vida com ele seriam seu futuro, e cada dia seria mais maravilhoso que o primeiro. Hoje era o começo de para sempre. Capítulo I Era o dia perfeito para um casamento. O sol brilhava, a brisa era morna e suave, e ao longo do caminho que levava à porta da igrejinha da aldeia as flores da primavera desabrochavam: roxas, douradas e brancas. As árvores estavam cobertas com uma nova folhagem, macia e verde. Era o dia perfeito e o cenário perfeito para um elegante casamento de campo inglês. Porém, na cabeça de Guido Corsentino, não podia haver nada de perfeito no casamento para o qual se dirigia a passos largos e furiosos. E o estado de espírito dele estava longe de ser idílico; não combinava nada com o sol brilhante do dia e com a atitude alegre da multidão que lotava o estreito caminho rústico. As pessoas estavam ali para ver todos os amigos e pa¬rentes dos noivos chegarem em limusines de luxo. Tinham observado os homens em seus trajes especiais e as mulheres parecendo coloridas aves-do-paraíso. Haviam ficado boquia¬bertos ao ver a noiva, esbelta e linda em seu vestido de seda branco, com o rosto pálido coberto por um véu de renda an¬tiga. E agora estavam todos parados, conversando baixinho, esperando que os recém-casados saíssem da igreja de mãos dadas, como marido e mulher. Nem repararam no homem alto, bonito e moreno que ti¬nha passado por ali, inteiramente concentrado no prédio an¬tigo diante dele. Os poucos que olharam para ele o tomaram como mais um convidado, embora sua roupa toda preta fosse bem mais informal que os trajes dos outros convidados. E, se notaram a expressão rígida de seu rosto forte e deslumbrante, certamente a tomaram como irritação por estar atrasado para a cerimônia. ...

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