Livro: Votos do Coração Página 2

... , mas uma das vigorosas patas abafou sua boca enquanto a outra a puxava pela barriga fazendo-a bater em um muro de pedra. — Não vou machucá-la — falou o muro de pedra. Ela chutou e empurrou seu seqüestrador, perguntando-se como um corpo humano podia ser feito de uma subs-tância tão dura. Mesmo temendo por si mesma, fez uma oração agradecendo que pelo menos André, Emília e Ra¬fael tinham conseguido entrar em segurança. Ainda se agitando o mais que podia, ela observou com pânico crescente enquanto seu carrasco chutava o portão e saía da proteção do Convento de Santa Úrsula e sua vi¬gília. Melissande não escutava aos comandos que seu se¬qüestrador sussurrava em seu ouvido. Só conseguia pen¬sar na dor e na desilusão que sua ausência causaria aos três pequenos órfãos. O louco que a segurava soltou sua boca, aparentemente precisando da ajuda dos dedos para assoviar. — Por favor! — A repentina súplica dela soou com uma convicção assustadora na silenciosa floresta alpina. Hesitando apenas um momento, Melissande lançou-se em uma torrente de súplicas urgentes ao homem que ainda não conseguia ver. — Sou a guardiã daquelas três crianças, não posso dei¬xá-las. Sou a única estabilidade delas. Um cavalo saiu galopando da floresta, um animal cinza com manchas escuras e crina preta. — Cuidarão deles — rosnou em seu ouvido uma voz masculina intensa, o ruído que Melissande podia sentir em suas costas. Ele falava francês com sotaque, como se fosse estrangeiro. Ela gritou. Um grito assustador, que espantava as aves de seus poleiros e fez o cavalo cinza empinar com descon¬tentamento. — Quieta! — ordenou a voz atrás dela, embora o ho¬mem não conseguisse cobrir sua boca enquanto tentava segurar o cavalo nervoso. Mesmo assim, antes que Melis¬sande pudesse gritar de novo, foi colocada em cima do amedrontador cavalo, sua carga arrancada de seus braços. — Meu livro! — Ocorreu a ela que poderia ter tido mais su ...

esso enquanto lutava com ele se tivesse soltado o manuscrito. — Não pode segurá-lo enquanto anda a cavalo — res¬pondeu o homem, colocando o pesado exemplar em uma bolsa. — Não sei cavalgar — protestou ela, embora instinti¬vamente suas mãos tenham agarrado a crina quando o ani¬mal empinou de novo. — Diabo que não sabe — rosnou a voz. Chocada, tanto pela palavra quanto pela suposição do homem de que ela conseguiria se manter em cima de um cavalo temperamental, Melissande ousou olhar para ele. Um clarão branco, percebeu ela, ao observar a forma complexa como o lenço exótico do homem fora amarrado. Implacáveis olhos cinzas encararam-na em resposta. Uma cicatriz longa que ia da testa até a orelha conferia-lhe uma aparência sinistra. Sentiu seu estômago apertar. Conhecia as formas san¬guinárias dos homens que escolhiam matar como forma de vida. Gritando com o animal, o seqüestrador chutou os flancos da égua, levando-os direto para a floresta. — Não! — Lutando em seu assento, Melissande ber¬rou, achando que seria melhor cair da égua do que se sub¬meter ao pagão. Mas quando deslizou na sela, um braço forte a pegou e a levantou, puxando-a para o colo do seqüestrador com uma velocidade impressionante. — Fique quieta — brigou ele. — Vai se machucar. O braço musculoso a segurava Contra a amplitude de seu peito. Ela mal tinha sido tocada nos dez anos que passara no convento. Por isso, ser pega agora parecia uma satisfação cruel de seu desejo secreto por contato humano. Melissande não conseguiria se mover se tentasse. — Está me machucando — disse ela, sem fôlego com o esforço, sentindo-se sufocada. Para sua surpresa, ele abrandou o aperto na mesma hora, embora o pagão ainda a segurasse de forma que não caísse nem pulasse da égua que galopava. Talvez ele conseguisse escutar à razão. Se ele afrouxa¬ra o aperto com o pedido dela, talvez ainda pudesse con¬vencê-lo a libertá-la. — Está cometendo ...

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