Livro: Corações em perigo Página 2

... Inglaterra, 28 de setembro de 1888 — Desculpe se a fiz esperar, srta. Laibrooke. Aceita mais um pouco de chá? — Não, obrigada. Sabrina pôs de lado a xícara de chá morno e olhou com desânimo para Theodore Crowhaven, o administrador do hospital. Apesar da baixa temperatura, não havia fogo na lareira enegrecida pela fumaça. O ambiente era frio, úmido e impregnado do cheiro enjoativo de charuto. Não era um lugar agradável de se estar, e Sabrina suspeitava de que Theodore Crowhaven a fizera esperar propositadamente, na esperança de que ela desistisse e fosse embora. O administrador acenou com a cabeça para o prato intocado de biscoitos sobre a mesinha. — Eu lamento não serem tão bons quanto aos que está acostumada. Se tivesse avisado que viria. — Ele tirou o chapéu, revelando o cabelo loiro e ralo. O rosto pálido possuía feições que, talvez outrora, fossem consideradas belas. Debochado, foi como Sabrina o classificou, no primeiro encontro com aquele homem, após a morte de seu pai. — Não se preocupe. Afinal, não vim aqui para tomar chá. Sabrina levantou-se, a saia de seda farfalhando ao redor dos tornozelos. Crowhaven olhou para a lareira apagada, uniu as pontas dos dedos diante de si e deu uma risadinha. — Não achei que tivesse vindo para isso. — Ele a fitou. — Então, a que devo o prazer de sua visita? — Julguei que fosse óbvio. — Esteve com o sr. Darby? Não acredito que ele a tenha encorajado a vir. Whitechapel não é um lugar que eu recomendaria, especialmente a uma mulher sozinha. — Ele riu. — Confesso que, se tivesse escolha, eu também evitaria esta região como a uma praga. — Acredito — ironizou ela. A antipatia que aquele homem lhe despertava, as suspeitas que lhe inspirava cresciam a cada instante. — Mas eu não me descuido, estou sempre atenta aos perigos. Como deve saber, Edward Darby, advogado de meu pai, está com um problema de saúde, e isso o afastou temporariamente do trabalho. Por ...

sso estou aqui, para verificar o andamento das obras na nova ala infantil. — Se você tivesse avisado, eu lhe enviaria um relatório detalhado sobre o andamento dos trabalhos. Sabrina limitou-se a sorrir. — Mas prefere ver por si mesma — constatou ele, com um sorriso forçado. — Sente-se — convidou, indicando a poltrona de couro diante da escrivaninha. — Vou lhe mostrar o que está sendo feito. Entenderá que não há motivo para preocupação. A nova ala infantil será um sucesso. Sabrina sentou-se devagar na poltrona, tentando adivinhar que argumentos o sr. Crowhaven usaria para apaziguá-la. Ele tirou uma pasta do fundo da gaveta e praticamente a atirou sobre a escrivaninha, além do seu alcance. De propósito, claro. — Sei que seu pai ficaria satisfeito. — Ele clareou a garganta. — Verá que o projeto está progredindo a contento. — Projeto? Está me dizendo que ainda não saiu do papel, um ano depois que meu pai morreu? — Sabrina inclinou-se para frente. — A fase de planejamento está quase pronta. Só mais alguns meses e. — Alguns meses?! As doenças não esperam enquanto você amontoa papéis! — Ela apontou para a pasta de documentos. — Estão matando nossas crianças, que precisam urgentemente de camas limpas, cuidados e remédios. Crowhaven permaneceu impassível. — Estou dedicando todo o tempo possível ao projeto. Mas também sou o administrador deste hospital e, como tal, tenho outras responsabilidades. — Ele deu um longo suspiro. — Não que eu esteja me queixando. Sabrina levantou a sobrancelha. — Não sou insensível à sua situação, senhor. Será que não estamos depositando um fardo pesado demais sobre seus ombros? Talvez devêssemos contratar alguém para cuidar do projeto. Hoje mesmo pretendo discutir isso com o sr. Darby. Sem dúvida, se meu pai estivesse aqui, ele teria sugerido exatamente isso. — Não será necessário — Crowhaven rapidamente descartou a sugestão. Sabrina levantou-se e ...

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