Livro: Cartas da Paixão Página 3

... desde o café da manhã. Almoçaria mais tarde, prometeu a si mesma, olhando para o Nellie. Dois vaqueiros passaram conduzindo uma carroça e tocaram na aba dos chapéus, cumprimentando-a. Clara retribuiu a gentileza. O Lazy Dog era o último prédio no fim da rua. Clara parou diante do estabelecimento para uma pequena avaliação. Era um Saloon bem grande e parecia bem conservado. Os letreiros pintados de vermelho estavam localizados acima da janela da frente. Cautelosa, aproximou-se do vidro, tentando verificar o interior para ter certeza de que não encontraria alguma pessoa indesejável. Empurrando as portas, ela avistou, ao entrar, três caubóis sentados à mesa próxima à extremidade do bar. O homem atrás do balcão mostrava um semblante frio e pouco amigável. Clara não falou com ninguém apenas observou o ambiente. O primeiro fato a chamar-lhe a atenção fora o fato de o chão não ser forrado. Ótimo, refletiu, pois detestava minúsculas felpas de madeira grudadas na barra da roupa. O lugar parecia calmo, mas eram apenas três horas da tarde e o movimento maior começaria ao pôr-do-sol, quando os homens terminavam o trabalho. O balcão do bar tomava boa parte da parede lateral, e cerca de oito mesas estavam espalhadas pelo salão. O papel de parede era tão velho que os desenhos haviam se fundido, formando uma coloração esverdeada. Cabeças de animais empalhados decoravam as paredes. Sobre o balcão havia dezenas de quadros de mulheres nuas. Embora o Saloon estivesse vazio, o ar era pesado e o ambiente conservava o odor de tabaco, uísque e suor. O barman, calvo e carrancudo, observava Clara como um cão de guarda. Com as pontas dos dedos, ele enrolava o bigode. No mesmo instante, Clara pressentiu não se tratar de um homem confiável. Apoiando os braços sobre o balcão, ele se inclinou. — Madame, se faz parte de uma daquelas cruzadas rumo à conquista do Oeste, poupe o trabalho e vá embora — advertiu o barman, com uma voz irritante. ...

— Isto é um Saloon, e não um circo. Portanto, dê meia-volta e saia daqui. Os três vaqueiros recostaram-se nas respectivas cadeiras, rindo. — Vamos, madame — insistiu o barman, gesticulando. — Ou será que preciso sair do bar para conduzi-la até a porta da rua? Clara hesitou por alguns segundos. Aquele tipo de gente sempre a incomodava, e estava tentada a dizer-lhe poucas e boas. Mas não o fez. Não queria causar problemas. Tampouco pretendia atrair atenções para si. Então, respirando fundo, resolveu se manifestar: — Que pena senhor. Será o único a sair perdendo. Virando-se, ela andou até a porta, batendo-a com força ao passar. Teria de controlar esse temperamento explosivo antes que se metesse em encrencas. Na rua, o sol parecia queimar-lhe o cérebro. Dois melros pousados na cerca nem sequer se moveram quando vira Clara. Contornando a carroça parada em frente ao armazém, ela prosseguiu, sentindo a leve brisa movendo as abas do chapéu. A última opção agora seria o outro Saloon de Broken Spur. Esse estabelecimento, por sua vez, estava localizado ao lado da loja de alimentos e grãos, denominada Brownell, e parecia em precárias condições. A fachada, revestida de madeira, era envelhecida e pedia muita pintura. A enorme janela parecia não ser lavada havia anos. Sobre a porta de entrada, em letras garrafais já amareladas pelo sol, lia-se: Scarlet Lady Saloon. O nome era bem sugestivo, refletiu Clara. Sentindo-se mais confiante, ela empurrou a porta dupla e entrou. Em alguns segundos, seus olhos se habituaram à penumbra. O salão era semelhante ao primeiro, embora fosse retangular, e não quadrado como o outro. O bar, instalado do lado esquerdo, e as paredes, mesmo descoloridas, mostravam certa elegância e distinção. O forte odor de tabaco e as partículas de poeira pairavam pelo ambiente, dificultando a respiração. Uma dúzia de mesas preenchia o espaço, todas possuindo o mesmo número de cadeiras ao redor. O assoal ...

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