Livro: Cartas da Paixão Página 2

... plicações. — Encontrem-na! — bradou outra voz grave. — Aquela bandida matou o xerife! Em resposta as suas preces, Clara encontrou alguns cavalos presos a uma cerca da rua principal. Tremendo de medo, saiu das sombras, aproximando-se dos animais. — Lá está ela! — um homem gritou. Clara se virou a tempo de vê-lo aparecer à porta do Saloon. As luzes das janelas iluminavam o local, formando tapetes amarelados no centro da rua. Clara acompanhou a sutil claridade, sem se importar em ser vista. Sua única esperança era um daqueles cavalos. Então agarrou as rédeas do animal e, de algum modo, conseguiu sentar-se na sela. Homens furiosos a bloquearam, puxando-a e tentando derrubá-la. — Fiquem longe de mim! — Clara berrava, empurrando-os e se defendendo com as rédeas. O cavalo pisoteava e rodava como se fosse um tornado. Clara precisava proteger a própria vida. — Assassina! — O homem agarrou-a pela cintura. Num golpe certeiro, Clara o empurrou, chutando-o no rosto. Assustado, ele esborrachou-se na terra seca. No mesmo instante, Clara esporeou o cavalo com toda a força e determinação. O animal relinchou e saiu em disparada. Enfurecidos, os homens gesticulavam e imprecavam. Depois de atingir a saída da cidade, Clara prosseguiu em sua fuga frenética durante a noite sombria e silenciosa. CAPÍTULO UM Era difícil dizer algo positivo sobre Broken Spur. Não obstante, o mesmo servia para a maioria das pequenas cidadelas do oeste do Mississipi. Três meses após ter deixado o Texas, Clara sentia-se ainda tão assustada quanto naquele fatídico dia. No entanto, era a primeira vez que se encontrava em Wyoming. Broken Spur, um pequeno vilarejo da região, resumia-se a poucos quilômetros de uma rua suja e empoeirada, sem nenhuma vegetação, nem mesmo algumas árvores ao redor. Exaurida, Clara tentava não desfalecer sob o sol escaldante daquela tarde, sonhando com uma bo ...

sombra ao pé de uma árvore. O vestido de veludo azul parecia absorver todos os raios solares. O corpete apertado que vestia dificultava sua respiração. Mais uma vez, ela se questionou sobre a necessidade de utilizar uma peça feminina tão torturante. O condutor da diligência ajeitou a pequena escada para que ela descesse. — Obrigada. — Clara sorriu. — Há algum Saloon na cidade? Secando o suor da testa, o desanimado condutor arregalou os olhos, estranhando a pergunta. — Como? — ele murmurou, tirando o chapéu para se abanar. — Por acaso a senhora disse Saloon? Distraída, Clara sacudiu a poeira espalhada na barra do vestido. — Sim. Há algum por aqui? — Bem, sim, senhora. Há dois. O Lazy Dog é logo ali, e o Scarlet Lady é deste lado da rua. Um sutil e maquiavélico sorriso despontou nos lábios de Clara. — Muito agradecida — disse, sem maiores explicações. Clara não pôde evitar a risada. Sempre sentia certo prazer perverso em deixar os homens imaginarem qual era sua profissão. Pegando a única maleta que possuía, iniciou a caminhada pela calçada de madeira, tomando cuidado para não prender o salto da bota nas rachaduras do calçamento. Várias pessoas, a maioria mulheres, passavam por ela e a cumprimentavam. Enquanto caminhava, Clara olhava de relance sua imagem refletida nas vitrinas, verificando a aparência. Não estava tão ruim, pensou, ajustando o chapéu um pouco para a esquerda e sacudindo a barra do vestido. Era um milagre parecer decente, considerando que permanecera os últimos três dias sacolejando naquela diligência. Estava cansada e coberta de poeira. Seria capaz de vender a própria alma por um banho e uma cama bem macia. Mas, em primeiro lugar, os negócios. Diante do armazém, leu um cartaz anunciando liquidação de estoque e, em seguida, atravessou a rua em frente a um restaurante chamado Nellie. O aroma de torta de maçã fez seu estômago reclamar, lembrando-a de que não havia se alimentado ...

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