Livro: O Sertanejo
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Autor - Fonte: José de Alencar
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José de Alencar
PRIMEIRA PARTE
I – O comboio
Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra
natal.
Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro
indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza.
Aí, ao morrer do dia, reboa entre os mugidos das reses, a voz saudosa e plangente do
rapaz que abóia o gado para o recolher aos currais no tempo da ferra.
Quando te tomarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos na
aurora serena e feliz da minha infância?
Quando tornarei a respirar tuas auras impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o
homem comunga a seiva dessa natureza possante?
De dia em dia aquelas remotas regiões vão perdendo a primitiva rudeza, que tamanho
encanto lhes infundia.
A civilização que penetra pelo interior corta os campos de estradas, e semeia pelo
vastíssimo deserto as casas e mais tarde as povoações.
Não era assim no fim do século passado, quando apenas se encontravam de longe em
longe extensas fazendas, as quais ocupavam todo o espaço entre as raras freguesias espalhadas
pelo interior da província.
Então o viajante tinha do atravessar grandes distâncias sem encontrar habitação, que
lhe servisse de pousada; porisso, a não ser algum afoito sertanejo à escoteira, era obrigado a
munir-se de todas as provisões necessárias tanto à comodidade como à segurança.
Assim fizera o dono do comboio que no dia 10 de dezembro de 1764 seguia pelas
margens do Sitiá buscando as faldas da Serra de Santa Maria, no sertão de Quixeramobim.
Uma longa fila de cargueiros tocados por peões despeja o caminho nessa marcha
miúda e batida a que dão lá o nome de carrêgo baixo, e que tanto distingue os alegres
comboios do norte das tropas do sul a passo tardo e monótono.
Os recoveiros armados de sua clavina e faca de mato formavam boa escolta para o
caso de necessidade. Além deles, acompanha
...
a a pesada bagagem uma caterva de fâmulos de
serviço doméstico e acostados.
Adiante do comboio, e já muito distante, aparecia a cavalgada dos viajantes.
Compunha-se ela de muitas pessoas. Dessas, vinte pertenciam à classe ainda não
extinta de valentões, que os fazendeiros desde aquele tempo costumavam angariar para lhes
formarem o séquito e guardarem sua pessoa, quando não serviam, como tantas vezes
aconteceu, de cegos instrumentos a vinganças e ódios sanguinários.
Em geral essa gente adotara um trajo em que a moda portuguesa do tempo era
modificada pela influência do sertão. Aqueles, porém, traziam um gibão verde guarnecido de
galão branco, uma véstia amarela e calções da mesma côr com botas pretas e chapéus à
frederica.
Larga catana à ilharga, trabuco a tiracolo e adaga à cinta, além dos pistoletes nos
coldres, completavam o equipamento dêstes indivíduos cuja sinistra catadura já de si inculca
mais susto do que as próprias armas.
Traziam mais, presa à borraina da sela e suspensa às ancas do animal, a larga
machada que servia-lhes no caso de necessidade para abrir a picada na mata-virgem, ou
improvisar uma ponte sôbre o rio cheio: utensílio indispensável naquele tempo ao viajante,
que muitas vezes o transformava em arma terrível.
Ia de cabo a essa fôrça um homem de exígua figura, magriço, que trajava como os
seus companheiros, com a diferença de trazer a farda de pano verde e o chapéu do feltro
agaloados de prata.
Esta escolta acompanhava duas pessoas que eram sem dúvida os donos do comboio.
A primeira, homem de cincoenta anos, do alto porte e compleição robusta, mostrava
pelo chapéu armado e pela farda escarlate com galões dourados ser um capitão-mór de
ordenanças. Montava cavalo ruço-pedrês, o qual dava testemunho de seu vigor na galhardia
com0que suportava o pêso do corpulento cavaleiro, além de umas vinte libras da prata dos
arreios.
A segunda personagem, dama de meia idade, mas b ...
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