Livro: O vale da sedução Página 2

... . O vestido que usava era decerto um modelo elegante. Mas, quanto ao chapéu. Ninguém desfilava por aí com a cabeça adornada com plumas como aquelas, exceto as rameiras da Toca da Raposa. Acontece que aquela foras¬teira estava longe de ser uma rameira. Pelo contrário. Parecia uma legítima pregadora da Bíblia, se é que ele alguma vez já havia se deparado com uma. Benning sorriu para si mesmo e bebeu mais um gole de café. A diligência começou a afastar-se pela rua, dei¬xando para trás três grandes baús enfileirados na cal-çada. Pelo jeito, a moça tinha vindo para ficar. Ele equilibrou uma gema, dourada e intacta, no garfo. Pousou-a suavemente sobre uma torrada e mordeu-a com grande satisfação, os olhos ainda fixos do outro lado da rua. A mulher fez meia-volta, dando-lhe as coitas. Seu mo¬vimento foi de tal forma brusco, que a saia escura do vestido rodopiou ao redor dos tornozelos, deixando à mos¬tra as anáguas brancas de renda. A breve cena chamou a atenção dele. Agradou-lhe aquela combinação graciosa de renda nevada, sapatinhos amarrados por cordões finos e tornozelos esguios. E as suaves curvas que o vestido sugeria. Ela andou ruidosamente pela calçada. Inclinou-se para espiar pela janela da barbearia, com uma das mãos pro¬tegendo os olhos do sol forte de junho. As anquinhas que usava ergueram-se, depois voltaram à posição normal quando ela sê aprumou e avançou para o estabelecimento ao lado, onde estava instalada a funerária de Zed Marsh. Que diabo a forasteira haveria de querer na funerária?, perguntou-se Benning. Distraidamente, deixou a faca deslizar pela clara de um dos ovos no prato, enquanto contemplava o tecido fino ao redor dos quadris dela, que estremecia levemente como uma folha ao vento. Aliás, tornou a se perguntar, o que a moça háveria de querer com o barbeiro? Seus cabelos escuros, sob o chapéu, pareciam excepcionalmente bem penteados. As anquinhas tornaram a oscilar à medida que ela avançava para a r ...

dação do jornal local. Dessa vez, nem se deu ao trabalho de espreitar pela janela: tirou algo da bolsa e curvou-se para a porta. Benning parou de mastigar. Entrementes, a moça ex¬perimentava uma chave na fechadura, puxava-a e tor¬nava a empurrá-la. Ora, ora, mas que história era aquela?, alarmou-se Benning. Ninguém tinha o direito de forçar a porta do escritório de Thad Whittaker, mesmo estando Thad mor¬to. Pelo menos, não enquanto ele, Benning, fosse o xerife. Esvaziou a xícara de café de um só gole e levantou-se. Iria sondar o que a moça estava querendo, decidiu. Atirou duas moedas sobre a mesa, apanhou o chapéu no cabide a um canto e dirigiu-se com passos firmes para a calçada de tábuas largas. Contrariando o hábito, olhou para os dois lados da rua antes de atravessá-la para ir à redação do Wildwood Times. Foi andando lentamente, passando sobre a via de terra, marcada pelos sulcos das rodas das carroças que por ali haviam passado. Com movimentos estudados, acercou-se de um ângulo da calçada. As esporas de suas botas não fizeram nenhum ruído. A moça estava de costas, espiando a janela da redação. Endireitando-se, ela tornou a guardar a chave na bolsa e esfregou a vidraça coberta de poeira com a mão enluvada. Olhou então através do círculo de vidro embaçado. Com um suspiro, cuspiu na palma da mão e tornou a esfregar a vidraça, ampliando o círculo translúcido na superfície empoeirada. Inclinou-se de novo e tornou a espreitar. Benning, mais uma vez, admirou as belas curvas que o vestido revelava. A forasteira apoiava-se ora em um pé, ora no outro, o corpo,flexível inclinando-se à direita e à esquerda. Depois, ela voltou a friccionar o vidro. ― Deus do céu. que horror! ― murmurou, falando alto o bastante para que Ben a ouvisse. ― Que chiqueiro! Dito aquilo, abriu a bolsa, tornou a retirar a chave e a enfiá-la na fechadura da porta, girando a maçaneta e fazendo a saia do vestido farfalhar com s ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: