Livro: A Tortura de um Passado Página 4

... ção ao lago. Ele agradeceu com um sorriso e depois ajoelhou-se para soltar a corda que estava presa numa das lâminas no trenó, enquanto ela desaparecia entre os patinadores. Kyle rodeou o lago a pé, indo na direção da casa. Deixou o trenó sob uma árvore não muito distante da fogueira. A trilha que levava até a sede do rancho estava coberta de neve. Kyle seguiu-a e, à medida que se aproximava, podia ouvir mais e mais alto a música que vinha lá de dentro. Na parte da frente havia uma chaminé de pedra e um terraço. Silhuetas humanas apareciam nas janelas, vez ou outra. A lareira da sala em "L" estava acesa. Mais de dez pessoas dançavam no ambiente rústico. Kyle sentiu calor e tirou as luvas para servir-se de um caneco de cerveja. Um rapaz, já meio embriagado, em resposta à pergunta de Kyle, indicou-lhe uma porta fechada num dos cantos da sala. — O telefone está lá dentro. Fique à vontade, Margie não se importa — falou o homem com um sorriso torto. Kyle Sanders consultou seu relógio de pulso e concluiu que não era tarde, afinal o dr. Hanson dera-lhe liberdade para ligar a qualquer momento. Fechou-se na sala para evitar o barulho da música e percebeu que havia uma televisão ligada. Surpreendeu-se ao ver um porco branco e cor-de-rosa deitado num confortável sofá em frente ao aparelho. Esfregou os olhos para ter certeza de que não era alucinação. O animal ergueu a cabeça, curioso, fez um ruído estranho e rolou do sofá, mexendo o focinho de modo descontrolado. Grunhiu mais uma vez, alto, e avançou em direção ao rancheiro, que deu dois passos para trás, tentando evitar o ataque do animal. O peso do bicho jogou-o contra a porta, fazendo-o virar o caneco de cerveja e derrubando o conteúdo no chão. Nesse momento a criatura desviou sua atenção para o líquido derramado e começou a lambê-lo. Atrás de Kyle, alguém tentava abrir a porta. — Newton! — gritava a voz feminina do outro lado. — Newton, comporte-se! Com c ...

utela e sem tirar os olhos do porco, Kyle afastou-se para que Margie Donovan pudesse entrar. — Newton, seu malcriado! Você tem os modos de um porco! — disse a moça, muito séria. Diante da zanga, o animal afastou-se da poça de cerveja, bufando para Kyke, que continuava perplexo. — Sinto muito! — desculpou-se Margie. — Ele não queria machucar você, estava apenas interessado na sua cerveja. — Na minha cerveja? Pode ficar com tudo, porquinho! — Não, não pode. Ele é alcoólatra. Estou muito embaraçada. Eu só percebi que você pretendia usar o telefone hoje mesmo depois que nos separamos. Devia ter avisado que Newton estava aqui e que ele reage de maneira cumpulsiva quando vê um caneco de cerveja. Há muita bebida lá fora, por isso ele tem que ficar trancado. — Assistindo televisão — interrompeu Kyle, tentando levar aquela conversa a sério. — Sim — continuou Margie. — Sábado é dia do programa favorito dele. O olhar surpreso de Kyle não se fixou no animal ou na sua expressão de desejo diante da caneca de cerveja, mas na mulher que apresentava desculpas pelo comportamento impróprio de seu porco. Ele não pudera ver seu rosto no escuro, mas já confirmava sua suspeita: ela era linda, tão linda que o fez pensar numa princesa. Faces coradas pelo frio. lábios rosados. pele perfeita e sedosa. cachos de cabelo loiro escapando do capuz. Os olhos verdes, tímidos, que evitavam encontrar os seus. — Programa favorito? — Kyle falou, depois de observá-la. Não pôde mais segurar o riso diante da resposta que confirmou que o porco realmente se entretinha assistindo tevê, o que serviu para aliviar o clima tenso provocado pelo animal e seu vício incontrolável. Margie explicou: — Em geral, Newton se comporta com educação. Se você não tivesse um caneco de cerveja, sua reação teria sido civilizada. — Deixe-me ver se entendi — falou Kyle, consciente, muito consciente dos efeitos que a beleza de Margie produziam sobr ...

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