Livro: A Tortura de um Passado Página 3

... . Mas paz não significava liberdade, e Kyle sabia que, para ser totalmente livre, precisava encontrar Claire, suportando todas as torturas de uma realidade tão fria quando o próprio rastro da esposa desaparecida. A lua brilhava, branca, um pouco acima do horizonte, iluminando suavemente o lago congelado. Kyle estava parado no topo do vale, segurando seu trenó. Olhava para as pessoas em volta. Lá embaixo, na margem do lago, ardia uma grande fogueira, o que produzia um efeito fantasmagórico nas figuras que passeavam, aguardando mais uma tentativa dos competidores. Lanternas de mão piscavam em vários pontos. E na encosta de um dos morros brilhavam as luzes da sede do rancho. Ele chegara tarde e ainda não vira Ted Prouty, que devia se encontrar ali, em algum lugar. Havia muita gente e estava escuro. Cumprimentava algumas pessoas que conhecera na semana anterior, enquanto fazia a mudança para o escritório que alugara em Rosewood. A descida parecia perfeita para o trenó. O declive tinha boa inclinação e era quase uma linha reta até o fim. Com uma boa largada no topo, seria possível deslizar até a encosta do outro lado do lago, onde estava a fogueira. Três trenós estavam alinhados para a disputa. Um dos competidores acenara, enquanto ele subia o morro, convidando-o a participar. Ele aceitara o desafio e posicionara-se ao lado deles. Começou a descida. Dois trenós se chocaram e abandonaram a prova. Kyle estava na frente, certo de que venceria, quando bateu numa pedra ou tronco escondido sobre a neve. O trenó foi para um lado e ele para outro, rolando, enquanto o quarto competidor cruzava a linha de chegada sozinho. Sob o suave luar Kyle viu o vencedor sair rapidamente do trenó e correr até ele que, a essa altura, já tirava a neve do cabelo. Uma figura feminina, elegante, usando calça jeans e jaqueta de esquiar, parou diante dele. — Você está bem? Se machucou? — Apenas meu orgulho doeu um pouco quando você me passou. A voz da mulh ...

r era doce, melodiosa, mas no escuro mal podia ver-lhe o rosto. — Você deve ser Kyle Sanders. — Como soube? — As pessoas têm feito descrições muito detalhadas de você. E é o único aqui que eu não conheço. — A mulher ficou em silêncio, enquanto ele se levantava; então se apresentou: — Sou Margie Donovan. Kyle estendeu a mão para cumprimentá-la. — Minha vitória foi casual. Não teria chance se você não caísse do trenó — desculpou-se ela. Ele fez cara feia e explicou: — Eu não caí. Bati numa pedra e o trenó virou. Olhou para a mulher, desejando que houvesse mais luz. Então, aquela era Margie Donovan?! Esperava uma pessoa mais velha, não alguém de vinte e poucos anos. Ela dizia: — Eu gostaria de ter ido ao seu rancho para desejar-lhe boas-vindas, mas tive que sair da cidade por uma semana. Negócios, sabe? Você está bem instalado? Precisa de algo? Hospitalidade rural do Nebraska, pensou Kyle. Ele crescera com isso e se esquecera durante os anos em que vivera na cidade. — Preciso sim. Meu telefone ainda não foi instalado e meu cachorro está no veterinário. Tenho que ligar para saber notícias dele. — Fique à vontade para usar o meu. Aconteceu algo sério ao bicho? — Ele entrou numa briga de rua. Se fosse mais jovem, não haveria maiores conseqüências. É sempre assim com King. Estavam parados na borda do lago, ela no gelo, ele na neve. Os patinadores passavam, suas lanternas moviam-se em todas as direções, e os gritos e risadas atravessavam o ar gelado da noite. Algumas pessoas chamaram Margie. — Vamos lá! Chuck tem uma caixa de fogos de artifício que sobrou do Quatro de Julho. Um homem baixo aproximou-se e tocou-lhe o braço: — Onde estão seus patins, Margie? Ela fez as apresentações, o que Kyle considerou inútil, pois seria muito difícil que se lembrasse daquele rosto visto no escuro. — Há sidra e cerveja perto da fogueira. Fique à vontade — disse Margie a Kyle, indo em dire ...

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