Livro: A Última Lágrima Página 3

... para levá-la para casa. Casa? Domine surpreendeu-se. Onde seria sua casa agora? Algum lugar que pertencesse a esse homem? Ou o hotel em Bognor? Ou finalmente Grey Witches? Sim. - gaguejou. - Muito. . . muito prazer. - Estendeu a mão desajeitadamente e James Mannering apertou-a com ligeira indiferença. Suas mãos eram o único dado revelador de que ele era um artista, pensou Domine. Eram longas e magras e com unhas bem tratadas. - Alo, Domine! - disse, sem emoção. - Está pronta para partir? - Oh, mas. . . - interveio a Madre, olhando ora para Domine, ora para James. - Quero dizer, não gostaria de ficar e tomar chá conosco? Isso daria a Domine a chance de conhecê-lo um pouco. Afinal o senhor é um completo estranho para ela, não é? James Mannering comprimiu os lábios por um momento. - Sim, somos estranhos um ao outro, Madre - concordou -, mas não creio que possamos começar a nos conhecer com uma terceira pessoa presente. Por outro lado, a senhora sabe que me atrasei por causa do tempo e que gostaria de voltar a Londres antes da hora do jantar. Domine sentiu um aperto horrível no estômago. Até o momento, tinha pensado tanto nesse encontro, que não avaliara o significado de ficar sob sua tutela. Estaria obviamente sujeita a suas vontades, a suas ordens. Ao se dar conta disso, não escondeu seu nervosismo e a Madre, percebendo, disse: - De qualquer forma, sr. Mannering, insisto que tome chá conosco. Como o senhor também é um estranho para nós, gostaria que pudéssemos discutir o futuro de Domine. É natural que queiramos saber quais são seus planos para ela, e que providências foram tomadas para que ela continue seus estudos. Domine sempre foi uma de nossas melhores alunas e seria uma pena que ela tivesse que interrompê-los agora. James Mannering tirou um charuto e olhou astutamente para a Madre antes de colocá-lo na boca. - Muito bem, vamos ao chá! Mas antes gostaria de fumar meu charuto, se a senhora me permitir. A pergunta não ...

era necessária, pensou Domine. James Mannering pareceu-lhe um homem muito independente e concluiu que ele fumaria o charuto fosse qual fosse a resposta da freira. A Madre foi então até a porta e chamou: - Irmã Teresa! Pode trazer o chá agora, por favor? Domine continuava no meio da sala, sentindo os olhos de James Mannering sobre ela. Não conseguia entender como esse homem se tornara seu tutor. James aceitou a sugestão da Madre e sentou-se perto da janela. Domine acomodou-se em uma cadeira ao lado da escrivaninha da freira. Irmã Teresa trouxe um carrinho de chá com bolo e sanduíches. Domine viu-se forçada a comer um dos sanduíches, embora não tivesse vontade. O dia parecia ainda mais melancólico e ela mal podia acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo. Pela primeira vez pensou na reação daquele homem, ao lhe ser legada a tutela de uma adolescente que nada conhecia do mundo além dos muros do convento. Por um instante, tomou consciência de sua inexperiência de vida e sentiu uma certa ansiedade. Se pelo menos fosse um outro tipo de garota, como Susan Johnson, por exemplo, uma de suas amigas, seria capaz de enfrentar com mais coragem a situação. Mas Susan tinha um lar normal, dois irmãos mais velhos para poder sair, trocar experiências. Domine porém não contara com ninguém nesses nove anos a não ser seu tio-avô, cujas ideias sobre diversão se restringiam a fazer viagens, ir a um cinema ou teatro, e ocasionalmente fazer uma visita a alguma instituição de caridade. Ela ouvira outras garotas conversando sobre roupas, música pop e namorados, mas fora isso nada mais sabia sobre o mundo delas. A Madre começou então a perguntar a James Mannering sobre seus planos para Domine, mas suas respostas eram lacónicas. Depois de algum tempo, percebeu que não conseguiria nada desse jeito. Então, voltando sua atenção para Domine, perguntou: - Já fez algum plano, Domine? Já pensou num tipo de ocupação para você? Domin ...

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