Livro: A Última Lágrima Página 2

... u uma espécie de segundo lar para ela. Lá passaram a Páscoa, o verão e o Natal nos últimos nove anos. Estava pensando no que lhe teria acontecido nove anos atrás se seu tio- avô Henry não a tivesse ajudado. Ainda podia se lembrar do horrível desastre de trem que matou seus pais, ouvir os rangidos dos freios, o barulho das ferragens se retorcendo, os gritos das mulheres e o choro das crianças. Estremeceu. Ah! Sim, ainda tinha pesadelos sobre tudo aquilo que provocara uma mudança repentina em sua vida. Tio Henry poupou-a da solidão e da miséria quando tinha apenas oito anos. Graças a ele, em vez de um orfanato, foi para o Convento do Sagrado Coração. Ele não era um homem religioso, mas respeitava a Igreja. Na ocasião, dissera-lhe que ela não poderia morar com ele, mas que passariam parte do ano juntos. Domine agora esperava deixar o convento para concluir o secundário e depois talvez tentar uma faculdade. Ela era inteligente e as madres tinham certeza de que se sairia bem. Mas tudo mudou com a morte de seu tio-avô. Como não tinha filhos, ou pelo menos assim dizia, dera a Domine até então educação necessária e estabilidade económica. Agora, porém. . . Quando a porta se abriu e irmã Teresa entrou, Domine levantou-se. - Então, Domine - disse ela, sorrindo -, está pronta? Domine arregalou os olhos. - A senhora quer dizer que ele está aqui? - Seu coração batia descompassadamente. - Sim, o sr. Mannering chegou - disse a freira. - Acho que ele teve alguma dificuldade em localizar o convento com essa chuva. Além do mais, as estradas não são nada bem sinalizadas, não é? Domine balançou a cabeça. - Eu. eu não ouvi o carro - gaguejou. - Não ouviu? Bem, talvez por causa da tempestade -admitiu irmã Teresa gentilmente.c Domine estivera tão imersa em seus pensamentos que não percebera o que se passara a sua volta. Levantou-se, pegou sua bolsa e ajeitou o vestido. Era jovem e gostaria de estar usando uma roupa mais bonita. ...

as talvez fosse melhor assim. Qualquer tentativa de parecer sofisticada poderia parecer ridícula. Seguiu a freira pelo corredor, descendo depois um lance de escadas até o andar térreo. No saguão, uma linda imagem de Nossa Senhora e do Menino Jesus dava um pouco de calor ao ambiente. Domine estava nervosa e torcia as mãos. Não era católica e, até então, mantivera-se afastada de qualquer credo religioso, mas de repente se sentiu envolvida pela força da fé. Irmã Teresa bateu na porta do escritório onde a Madre Superiora as aguardava. Domine entrou devagar, olhando imediatamente para a figura do homem que estava imóvel ao lado da escrivaninha da freira. Ele estava de costas para a porta, olhando para a mesma paisagem que ela estivera contemplando minutos atrás. A chuva ainda não havia parado e as luzes do escritório haviam sido acesas, fazendo com que o ambiente se tornasse menos sombrio. Quando irmã Teresa fechou a porta, ele se virou e olhou fixamente para Domine. Seus olhos tinham um estranho tom de azul. Olhar frio. pensou Domine. Não era um homem bonito: suas feições eram duras, a pele morena, e a boca, contudo, extremamente sensual. Era alto, magro e tinha ombros largos. Seu cabelo era castanho, com um tom de loiro, e liso. Ela não conseguia adivinhar sua idade, embora fosse mais jovem do que tinha imaginado. Era certamente mais jovem do que seu pai. Não parecia um artista como ela havia pensado. Vestia-se como um homem de negócios: terno escuro com colete. Estava com as mãos enfiadas nos bolsos e gotas de chuva brilhavam em seus cabelos. Domine percebeu que ele não perdera tempo fazendo perguntas sobre ela à Madre Superiora. Gostaria de saber o que a Madre achava dele, porém, pela sua expressão, percebeu a dúvida da religiosa em entregá-la àquele desconhecido. Contudo, ela soube disfarçar seus pensamentos e, quando Domine entrou, disse: - Ah, cá está você, minha filha! Como pode ver, o sr. Mannering finalmente chegou ...

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