Livro: A Última Lágrima

... Storm In Rain Barrel ANNE MATHER. Por que ele não veio?, perguntou-se outra vez. O que será que o teria feito atrasar-se? Levantou-se da cadeira ao lado da janela e começou a andar apreensiva pelo quarto. Olhou para o relógio de pulso. Seria mesmo somente três e meia da tarde? Parecia haver passado muito mais tempo desde que o almoço terminara. Se pelo menos o dia não estivesse tão escuro e triste, ela talvez se sentisse melhor. Voltou a sentar-se perto da janela, colando o nariz na vidraça e deixando-a embaçada. Desenhou então com o dedo o rosto de um palhaço. Antigamente seria castigada por isso. Apagou então o desenho e suspirou. Estava impaciente. Quanto mais teria que esperar? Pegou sua bolsa e tirou o maço de cigarros. Era estranho pensar que agora ninguém se importava com o fato dela fumar ou não. Só James Mannering era contra as moças fumarem. Só de pensar nele ficava nervosa. Mas era preciso se controlar! Rapidamente riscou um fósforo e acendeu o cigarro. Deu uma tragada profunda e imaginou que irmã Teresa não ia gostar de surpreendê-la fumando. Mas era difícil abandonar o vício! Espiou pela janela outra vez. Agora podia ver os jardins e mais adiante, à direita, o caminho que levava à entrada principal do Convento do Sagrado Coração. Seu nervosismo voltou quando ouviu o ronco forte do motor de um carro. Mas o som foi diminuindo aos poucos e ela concluiu que, fosse quem fosse, passara reto. Domine continuava nervosa. Certamente não teria que esperar muito mais. Será que James Mannering não percebia o quanto ela estava triste e transtornada? Será que pensava que ela iria aceitar passivamente essa situação nova sem ao menos considerar quais seriam suas reações? Levantou-se novamente e, caminhando em direção à lareira, apagou o cigarro. Então se olhou no pequeno espelho de seu estojo de pó. Nem todos os espelhos haviam sido proibidos no convento. Sua imagem não lhe pareceu muito nítida. O que James M ...

nnering pensaria dela? E o que deveria pensar dele? O que se pode pensar de um desconhecido? Tornara-se responsável por ela, embora para Domine ele fosse ainda uma incógnita. Puxou para trás os cabelos em desalinho que lhe caíam sobre a testa. Não via nada de extraordinário em sua pele bronzeada e em seus grandes olhos castanhos. Suas sobrancelhas e cílios eram escuros, o que não deixava de ser uma vantagem, já que a única maquilagem que lhes era permitida era um pouco de pó-de-arroz e batom. Seu cabelo castanho-claro era sedoso e estava sempre preso numa trança ou num rabo-de-cavalo. Guardou o estojo de pó e começou a pensar no que diria a James Mannering quando ele chegasse. Era difícil saber como deveria tratá-lo, pois quase nada sabia a seu respeito. Como ele havia sido amigo de seu pai, deveria ter agora mais de quarenta anos. Era um dramaturgo muito bem-sucedido e provavelmente muito sofisticado. Imaginava que ele devia falar pomposamente como os artistas que costumava ouvir conversando em um bar da cidade onde ela e mais uma ou duas amigas costumavam ir em ocasiões especiais como, por exemplo, o aniversário de uma delas. Considerava-o como uma espécie de tio, sem saber por quê. Por que seu tio-avô Henry fizera isso? O que ele pretendia? Durante todos esses anos se recusara a reconhecê-lo como filho, para depois fazê-lo seu herdeiro! Domine balançou a cabeça. Não se importava com o dinheiro, porém se fosse seis meses mais velha as coisas teriam sido mais fáceis. Já teria então dezoito anos, e poderia recusar qualquer tipo de caridade. Porém, sendo menor, tinha que concordar com os termos do testamento de seu tio-avô. Não assistiu ao enterro, mas não se sentiu culpada por isso. Afinal, em todos esses anos que esteve sob sua tutela, jamais visitara Grey Witches, a casa que seu tio-avô tinha em Yorkshire e onde passava nove meses por ano. Os outros três meses ele ficava com Domine. Iam para um hotel em Bognor que se torno ...

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