Livro: Arte de Seduzir Página 3

... s muros onde a neve de fevereiro se acumulara. Ela se levantou com um gesto brusco. - Então é verdade. Pelworthy foi vendido! - Sim. - E o senhor é o escocês? Seu queixo tremia e o sorriso desapareceu. Roger detectou nos olhos verdes uma tristeza e desgosto profundos que o haviam deixado curioso e surpreso ao mesmo tempo. - Sou o proprietário - repetiu com orgulho. - E também inglês por parte de mãe, que nasceu em Sussex. Devo confessar que minhas terras na Escócia também me são queridas. Observou-a engolir em seco nervosamente. Era óbvio que se tratava de uma mulher orgulhosa, do modo como erguia os ombros e o queixo. - Devo ir - disse a dama. - Lamento ter invadido suas propriedades. Espero que me desculpe, mas costumo vir aqui des¬de criança, e desejava usufruir um pouco desta tranqüilidade. - Não precisa ir embora, e espero que venha aqui quantas vezes desejar, senão o castelo sentirá sua falta. Ante essas palavras, uma sombra do belo sorriso aflorou-lhe aos lábios, mas logo desapareceu sob uma muralha de reserva. A dama inclinou a cabeça. - Tenha um bom dia, senhor. Roger fizera uma cortesia e a deixara passar sem perguntar seu nome. Tivera certeza de que iria se ofender caso a inquirisse, mas por certo ela devia ser conhecida no vilarejo mais próximo. Os meses que haviam se seguido trouxeram uma enorme tra¬balheira para sir Roger. Iniciara as obras no castelo sem perda de tempo, o que o fizera conviver o tempo todo com carpinteiros e pedreiros, mas não com a alta sociedade de Chilchester, que lhe fechara as portas desde o início. Nada que ele fizesse permitira qualquer aproximação. Agora já sabia que a dama era a srta. Piper, que também o ignorava. Roger nunca se iludiu a respeito dos preconceitos das cidades pequenas. Hóspede permanente de seu castelo, lorde Anthony Stephens, filho do conde de Selsfield, também era visto com re-servas em Chilchester. Mesmo diante de tamanha oposição, Roger não se deu por ven¬ci ...

o, pois se estabelecera ali, e um dia Chilchester o aceitaria, por bem ou por mal. Sabia como as mentes estreitas podiam fazer pressão até sobre a mais gentil e simpática das pessoas. Sua própria mãe sofrera tal boicote, apenas porque se casara com um escocês, algo que os ingleses esnobes não toleravam. Portanto, voltando ao momento presente, ouvir a adorável srta. Piper dizer que aceitava ser sua esposa era uma interessante vi¬rada, que prometia muito. Ela devia ter sofrido para voltar atrás, e isso o divertia. Então a srta. Piper queria um marido, e não qualquer um, mas ele, sir Roger Mathieson. Por quê? - Está apaixonada por mim? - perguntou de modo brusco e provocador. A pergunta a pegou desprevenida, mas reagiu. - Claro que não! Será um casamento de conveniência. Se deseja saber, certas circunstâncias desagradáveis tornam necessá¬rio que me case. - Entendo, mas por que eu? As faces suaves se ruborizaram - Não irei insultá-lo com mentiras. - Respirou fundo. - Porque o senhor é muito rico, naturalmente. - Compreendo. E o que a fez ser forçada a fazer um casamento por interesse? Sei que possui um bom dote. - A dificuldade não é minha, mas de meu pai. Um recente. constrangimento, se posso assim dizer. Roger ficou surpreso, pois não ouvira nenhum comentário a respeito de Horace Piper estar com problemas financeiros, nem mesmo por parte dos criados bisbilhoteiros. Mas ali estava sua filha, dizendo exatamente o oposto. - Tenho certeza de que possui muitos admiradores que fica¬riam felizes em ser aceitos, srta. Piper, e que por certo abdicariam de seu dote para ajudar seu pai. Portanto insisto em perguntar. Por que eu? Ante essa insistência, Madeline começou a ficar irritada. - Devia saber que o senhor me pressionaria de maneira pouco cavalheiresca. - Esse comentário não irá me intimidar. Exijo uma resposta franca de sua parte. Por que me escolheu se poderia optar entre uma dúzia de outros homens? "Estaria apaixonad ...

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