Livro: Caçador de tesouros Página 3

... o pesado equipamento que tinha às costas. — Tire as mãos de mim! — disse, pondo na voz o tom mais ameaçador que pôde conseguir. — Como quiser. — Havia um forte sotaque sulista no inglês dele. A pressão dos dedos fortes desapareceu e ele aproximou-se do barco em poucas e vigorosas braçadas. Shelby piscou várias vezes, para liberar os olhos da água salgada e, com a mão enluvada, afastou os cabelos da testa, procurando ter uma visão melhor de seu pretenso salvador que cortava, rápido, a água verde e gelada. Aproximou-se dele, nadando, e viu que os olhos negros brilhavam com o mesmo divertimento que a voz grave denotara. Cabelos pretos, rebeldes e crespos, caíam sobre a testa alta; os lábios bem delineados, sensualmente cheios, curvavam-se num sorriso zombeteiro. Tornou a fitar os olhos escuros que se suavizaram um pouco fazendo-o parecer menos. seguro de si, pensou a moça. Antes que ela pudesse falar, uma onda alta jogou-a contra o casco do barco, cobrindo-a com um lençol de espuma. O braço forte, moreno, envolveu-lhe o corpo abaixo das garrafas de oxigênio, e a ergueu. Ela sentiu o rosto áspero de barba de um dia raspar-lhe a face e o calor da respiração dele em seu pescoço. — É verdade — insistiu Shelby, assim que pôde -, eu sei nadar. Pode me soltar, sim? — Poderia soltá-la — riu ele -, mas há uma boa distância até a praia e este é o único barco por aqui. — Dá uns cinco quilômetros. Eu arrisco. Ele soltou uma risada alegre, cálida: — Quer saber, eu não duvido! — Soltou-a, pediu que baixassem a escadinha junto ao costado, e disse-lhe: — Por favor, suba. — Não subo, enquanto esse fio de aço estiver enganchado em minhas garrafas — reclamou ela. — Às suas ordens, madame, vou ajudá-la! Nadou por trás dela e examinou a linha. Depois de diversas tentativas, às vezes gemendo pelo esforço, conseguiu desembaraçá-la. Então, voltou para junto da escadinha e indicou-a, dizendo: — Seja bem-v ...

nda! «Aquele cowboy dos mares achava que ela ia agradecer»?, pensou Shelby, com raiva, imaginando mil vinganças. — Perdoe-me, por favor — disse, pondo na voz uma falsa doçura. — Sei que vocês estão acostumados com mulheres bem-educadas. Acredite, estou profundamente grata por ter sido enganchada, rebocada dentro d\'água e, agora, libertada! Nadou para a escadinha cromada, acima da qual várias mãos se projetaram a fim de ajudá-la com as pesadas garrafas de oxigênio. Mesmo sem elas, o restante do equipamento, cinto de chumbo, pés-de-pato e mesmo a roupa de neoprene, tornavam os movimentos difíceis. Não era de surpreender, agora que a adrenalina baixara, consumida pelo ataque de raiva, que ela sentisse cansaço. Sentira-se cansada antes, quando decidira emergir, e agora, sem a leveza oferecida pela água, a exaustão a dominava. De pé no tombadilho, viu-se rodeada pela tripulação. Alguém ofereceu-lhe uma toalha e ela enxugou o rosto. Fitou a terra, ao longe, procurando se orientar. A torre de Provincetown encontrava-se bem mais à direita do que esperava. Não era à toa que não conseguia localizar o Zodiac e Sam: havia se deslocado demais dentro d\'água. Ele já devia estar ficando preocupado, talvez tentasse localizá-la na água. — Vamos, moça, suas guelras estão meio esverdeadas. É melhor sentar-se, descansar e respirar fundo. Shelby voltou-se: era um senhor de meia-idade, de barba longa, cuja barriga arredondada denunciava paixão por cerveja. Agradecida, deixou-se cair numa cadeira de armar, de lona, tirou os pés-de-pato e a máscara. Um rapaz ofereceu-lhe uma xícara de café fumegante. Aos poucos seus dedos foram se aquecendo e desentorpeceram, o calor do sol ajudando-a a se recuperar. Era evidente que todos tentavam ser amáveis, mas o fato é que eles tinham posto sua vida em perigo e feito com que perdesse uma câmara fotográfica muito cara. Não se sentia disposta a perdoá-los. Então, os homens que se haviam reun ...

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