Livro: Caçador de tesouros Página 2

... o às costas. Sem dúvida o fio de aço enganchara entre as garrafas de oxigênio. Sobrecarregada como estava, mal conseguia tocar o fio, quanto mais se libertar. Uma raiva crescente começou a eliminar o medo. Encontrava-se em águas protegidas e aquilo, evidente, não era uma linha de pesca convencional, que a prendia como se fosse um peixe-espada. Antes de resolver o que faria, a linha de aço esticou-se, escapando-lhe da mão, e Shelby sentiu-se puxada, como se estivesse esquiando embaixo d\'água, em direção à superfície. A força d\'água ameaçava arrancar-lhe a máscara e, ao segurá-la, ela deixou escapar a câmara fotográfica. Tentou recuperá-la, mas ela se afastou deslizando, como se fosse um desses aviõezinhos de papel que se joga para o alto, até desaparecer na escuridão lá embaixo. A raiva tomou conta dela. Dois mil dólares de equipamento da SafeSeas. Alguém iria pagar pelo prejuízo: ela cuidaria disso. Quer dizer, partindo da premissa que saísse inteira daquela encrenca. Felizmente, encontrava-se em águas pouco profundas e teria tempo para descomprimir, durante a subida. Uma ascensão rápida à superfície poderia significar morte; quanto a isso, sem dúvida, estava com sorte. Se continuassem a puxá-la naquela velocidade, atingiria a superfície em trinta segundos e seu companheiro de trabalho não estaria muito longe do lugar onde emergiria, no barco inflável Zodiac. Se houvesse algum problema, ele ouviria seus gritos. Acima dela, os raios de sol brilhavam num caleidoscópio de espumas brancas e cores irisadas, contra o céu azul-pálido. Quando chegou à superfície soltou o bocal do respirador e cerrou os dentes, com fúria. A linha de aço afrouxou e a moça sentiu o vento quente no rosto. Começou a nadar, erguendo a cabeça para enxergar acima das marolas, na tentativa de localizar o responsável por seu tormento. Ergueu a máscara acima da testa e piscou, os olhos ofuscados pela luminosidade do sol. Uma onda maior apanho ...

-a e a levantou o bastante para ela ver o casco de imponente barco cabinado, de setenta pés de comprimento e umas seis pessoas acenaram-lhe, da proa, gritando alegremente. Duas delas seguraram o fio de aço e puseram-se a puxá-la. — É uma sereia! — gritou um dos homens. Shelby já se achava o suficientemente perto para perceber-lhes os rostos. Cinco homens e uma mulher; sem dúvida, turistas em passeio de um dia, para pescar. «Ainda assim», pensou ela, «para que a linha de aço»? E para que seria os engradados que vislumbrara no tombadilho? — Você está bem? — indagou um rapaz, quando ela encontrava-se mais perto. Os rostos amorenados pelo sol demonstravam ansiedade. — Já estive melhor — respondeu, de mau humor. — Acho que a linha enroscou nos tanques — disse a moça que estava no barco. — Sinto muito ter interrompido a pescaria de vocês — declarou Shelby, com uma ironia calma ―, mas será que alguém poderia me içar aí para cima? Antes que alguém tivesse tempo para responder, ouviu-se o ruído de algo volumoso caindo n\'água, seguido por um movimento que a pegou de surpresa. Temporariamente submersa, ela sentiu que era cuidadosamente erguida, até sua cabeça aparecer acima d\'água. Sentiu uma pressão firme nos quadris e tateou, percebendo duas poderosas mãos que a seguravam com firmeza. De novo na superfície, tossindo, cuspindo, Shelby não saberia dizer se o aborrecimento que sentia era pela água que havia engolido ou pelo desconhecido que brincava de salva-vidas com ela. Afinal, passava metade do tempo n\'água e precisava da ajuda daqueles malucos tanto quanto de um buraco na cabeça. Girando o corpo, conseguiu perceber um torso moreno e um antebraço musculoso, bronzeado. O pretenso salvador a segurava por trás, com intimidade inconveniente. — Costuma estar sempre por aqui? — indagou ele, com voz grave e sedosa. Ela retorceu o corpo numa inútil tentativa para se libertar, pois era impossível, com ...

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