Livro: Uma flor selvagem Página 2

... lgemado à linha de homens. O ombro latejava por causa da bala que lhe rasgara a carne. Suportando uma onda de dor, vistoriou os muros da Hacienda del Salado, onde havia dúzias de homens armados. O coronel Domingo Huerto, o oficial mexicano mais gra¬duado, deu um passo à frente para informar qual seria o destino dos texanos. O semblante do homem revelava prazer e satisfação. — Seus pecados contra meu povo são muitos — Huerto iniciou o discurso. — Por invadir Mier e capturar o alcaide, vocês merecem morrer como cães sarnentos. Ao redor do coronel, soldados e subalternos assentiram e murmuraram comentários. Huerto prosseguiu: — No entanto, fiquei sabendo que representantes britânicos e americanos na Cidade do México suplicam pela vida miserável de vocês. Não me perguntem por quê. São a desgraça desta terra. Arrasam vilarejos e assaltam pessoas inocentes. Mas nem todos morrerão. Um em cada dez enfrentará o pelotão de fuzilamento. Esse é o jeito latino. Contudo, como sei que vocês têm certa fraqueza por apostas, é isso que faremos. Jogaremos com suas vidas. A um gesto de Huerto, um subalterno apressou-se com uma jarra de barro coberta por um lenço. Huerto ergueu a jarra. — Há 176 feijões aqui dentro. Um para cada um de vocês. Dezessete deles são pretos; o resto é branco. Os que pegarem os feijões pretos vão morrer. — Santo Deus! — alguém murmurou. Justin olhou para sua esquerda e viu Edmund Katz, cujo rosto repleto de espinhas delatava sua adolescência. Ele não devia ter mais de dezesseis anos. A direita de Justin estava Thaddeus Stripling, que parecia prestes a desmaiar devido ao ferimento que não parava de san¬grar em sua barriga. Discretamente, Justin abraçou-o pela cin¬tura a fim de segurá-lo e perguntou-se por que Stripling, um político nomeado, achava-se entre os maltrapilhos da expedi¬ção de Mier. ― Você devia ter seguido meu conselho em San Antônio — Stripling murmurou. — O que quer ...

dizer? Ele sorveu o suor que escorria sobre o lábio inferior. — A mulher mexicana. Isabella Hernandez. Você não a conheceu em San Antônio? Ela faz parte do Accord, mas creio que já sabe disso. Justin respirou fundo. Como Stripling sabia acerca do Accord? Antes que pudesse perguntar, a jarra de feijões foi colocada diante dele. — É isso que chama de jogo, coronel? — Justin provocou Huerto. — É mais do que merecem — rebateu o oficial mexicano. Huerto olhou para Isabella. — Não poderíamos nos dar ao luxo de deixar este aqui escapar. Isabella apenas assentiu, recusando-se a erguer o rosto. Huerto empurrou a jarra para Justin. — Pegue um feijão. Com deliberada lentidão, Justin inseriu a mão na jarra. Ta¬teou os feijões com os dedos e puxou um, sem tirar os olhos de Huerto. Os texanos ao redor dele riam e brincavam, uma reação histérica diante do perigo iminente. — O sorteio de feijões nos levará ao inferno — um deles disse. — É o jogo mais azarado de que já participei — retrucou outro. Por fim, Huerto ficou impaciente. — O que está esperando, tejano? Mostre a sua mão. Justin ergueu o punho fechado e o abriu devagar. Os raios de sol cintilaram em sua palma. O feijão lá estava, tão letal quanto uma bala no coração. — Não. — Isabella murmurou. Huerto sorriu. ― Lamento, amigo. Deve ser o acaso, como dizem por aí. Enquanto uma sensação fria invadia Justin, o ódio por Huer¬to e seus semelhantes aumentava. O Texas havia ganho inde¬pendência sete anos antes, mas os mexicanos derrotados per¬sistiam, tentando dominar as fronteiras e subjugando pequenos vilarejos e povoados que sucumbiam à pobreza. Justin sentia-se surpreendentemente calmo diante do próprio fim. Lamentava apenas o fato de que sua morte deixaria ina¬cabadas várias missões governamentais. A loteria continuou até que todos os feijões pretos foram colhidos. Gritos de ultraje, súplicas por misericórdia e blasfê¬mias ec ...

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