Livro: Mensageiro do Desejo Página 4

... a lhe disse: – Senhorita Sloane, para Gatwick? – Seu rosto ficou na penumbra enquanto se dobrava para apanhar o bagagem. – Sim, obrigada. Retornou ao apartamento para uma breve checagem do passaporte, passagens e travellers’s cheque. Vestiu o casaco de peles que ia até a Cintura e colocou sobre os ombros a alça de sua sacola de viagem. Aguardava com prazer suas férias, começando a vê-las mais como um período de descanso e diversão do que um muito necessário afastamento da perseguição de Gerald. Roger Orme a respeitava como funcionária, por sua capacidade de encontrar os melhores entre a predominante massa de mediocridade, e por seu tato inato de lidar com os clientes mais difíceis. Era uma arte, em sua opinião, que desenvolvera ainda adolescente quando ajudava o pai, um pastor. Sim, Roger Orme gostava dela como pessoa, mas amava o filho. E se achasse que ela fazia Gerald infeliz, as coisas poderiam se complicar e teria de pedir demissão de um trabalho bem pago, do qual gostava. Assim, as férias dariam tanto a ela quanto a Gerald o tempo necessário para respirarem. Até já sentia a excitação dessa liberdade em seu corpo. A área em frente a seu apartamento era escura, iluminada por uma única lâmpada. Chovia forte e havia flocos de neve na chuva. Hannah puxou a gola pesada de seu casaco para cima, sentindo a maciez da pele de marta afagar-lhe o rosto. Virou-se para a rua, onde o carro estava parado entre duas poças d’água que refletiam a luz da lâmpada. O motorista adiantou-se e colocou as malas no bagageiro. Ela ficou impaciente, como se estivessem atrasados, e não adiantados; ele abriu a porta traseira do carro, inclinando cortesmente a cabeça, enquanto ela, sem olhá-lo, deslizava para a agradável tepidez do interior, com pressa para sair de baixo da chuva fria. Hannah percebeu que ele não tinha a menor vontade de conversar e pensou que essa atitude carrancuda provavelmente se devia ao fato de ter saído do calor e conf ...

rto de sua cama àquela hora, numa manhã horrível. Deixou-o com seu mau humor, fechou os olhos, e ouviu o ruído surdo do motor e o chiado dos pneus na estrada molhada. Eram suas primeiras férias desde que começara a trabalhar para Roger Orme. Primeiro ficara muito abalada com a morte dos pais, com quem passava todos os feriados em sua casa no interior. Depois houve Eden, e logo depois que rompeu o noivado com ele decidira mudar de casa. Com o modesto, mas considerável legado que os pais lhe deixaram, mudou-se do quarto onde morava para o atual apartamento e o decorara com o mesmo cuidado e classe que aprendera a ter com a própria aparência. Havia pouco tráfego nas rodovias àquela hora da manhã, e o motorista pisava fundo no acelerador; assim chegaria a Gatwick com tempo suficiente para tomar um café e dar um giro pela livraria. Na noite anterior ela fora para a cama muito tarde e não conseguira dormir direito; agora os olhos se fechavam ajudados pelo relaxamento que o conforto do assento do carro lhe proporcionava. Sentiu que dormira muito quando despertou, e o carro continuava em movimento. Hannah, desorientada, viu uma placa de estrada que indicava Ipswich, iluminada por um instante pelo brilho dos faróis, antes de ficar para trás. Virando-se no assento, olhou na direção da placa, como se isso pudesse ajudá-la a esclarecer a situação. Voltou à posição normal e tentou ver a hora, mas o interior do carro ainda estava muito escuro para que ela enxergasse os dígitos de seu relógio de pulso. – Motorista. – Curvou-se para a frente, tocando em seu ombro. – Já devíamos estar em Gatwich, e tenho certeza de que vi uma placa para Ipswich. Esperava ouvir algo que a tranqüilizasse, algo de que pudesse rir mais tarde e contar aos amigos. “Como estava meio dormida, imaginei que ele pegara o caminho errado e que tivesse de dar uma volta de cem quilômetros para retomar!” Certamente não esperava um silêncio total à sua pergunta, nem ...

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